Seios grandes e olhar de marfim...
Rogério Martins Simões
Quando o riso fazia parte de mim;
Eu era a felicidade.
Se uma cotovia, apressada,
Passasse por meus olhos num relance;
Se ela sorrisse,
Eu disfarçava:
Prendia os meus olhos ao chão...
Envergonhado,
Mas atrevido,
Gostava de me transformar em passarito...
E lá ia eu aos saltitos,
Olhar gaiato, mas bonito,
Em busca de mais um sorriso.
Era um tempo de fadas,
De bruxas, de princesas,
De bichos com sete cabeças,
De estórias deliciosamente bem contadas,
E escutadas,
À luz do candeeiro.
Quando a manhã acordava,
Despontava em mim aquele sorriso maroto:
Um olhar de lado,
Apaixonado, e curioso,
Pelas meninas, mais velhas,
Que desdenhavam a minha precoce paixão...
Depressa consegui uma namorada
Que, todos os dias,
Fixamente me olhava:
Tinha uns seios enormes
E um olhar de prata.
E sorria!
Sorria quando a fechava,
E a fixava,
- Presa por pioneses -
À parede fronteira do meu antigo quarto.
Estou a ficar velho!
Reparo, agora, que a vejo assim:
Seios grandes e olhar de marfim...
28-01-2010 20:13:39
(será incluído no próximo livro)
Poemas de amor e dor
conteúdo da página
publicado às 23:13
(Cópia
Óleo sobre tela Elisabete Sombreireiro Palma)
PERCURSOS
Rogério Martins Simões
Andamos aos poucos
a escrever o livro das nossas vidas.
A libertação tem o seu preço,
pagamos caro a mudança,
sacudindo as roupa envelhecidas…
Que é feito dos vestidos de chita?
Onde estão os dedos finos delicados
que enrolavam os cabelos do menino?
E os caracóis? E as gotas
com que rebuçava o olhar de mel?
Tartarugas luzidias rastejam
recordando que já foram cágados…
Abro o saco e liberta-se
um louva-a-deus…
Manejo uma espada de madeira,
herói da banda desenhada.
Ergo a espada de nada
e faltam-me as sílabas
que se escaparam
das folhas arrancadas.
Ainda assim quero escrever,
quero borboletear faíscas
para não ficar cego…
As recordações são agora
monstros cospe-lume,
dragões afinados…
Cordas partidas de um violino.
Liberto as claves de sol
para de novo te ver sorrir!
Um canto adormecido
embala docemente
um berço de silêncio.
Recupero o leite materno
num figo verde,
lábios rasgados.
Chupo um rebuçado
com sabor a mentol.
A tinta permanente secou!
O mata-borrão
levou as pontas do meu nome
(bem desenhadas
para caber entre duas linhas.)
Entrelinho as palavras desalinhadas.
Não dou a mão à palmatória.
Quando tudo passar serei glória.
Por agora vou afinando
as cordas estropiadas,
velha amarra dum batel.
A espada é agora pó
e já foi serradura…
Os cabelos, caracóis finos,
afinaram os violinos
numa nuca envelhecida
e cantaram vitória…
Ainda assim a fogueira
não destruiu tudo
e o combate ao dragão
queima-tudo,
ainda agora começou.
O fumo das folhas
é agora nosso.
E os versos também…
26-02-2007 0:23:20
(Ao correr da pena, dedicado à poetisa
Maria Célia Silva )
Poemas de amor e dor
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publicado às 00:05
(Óleo sobre tela de
Elisabete Maria Sombreireiro Palma)
Volta! Eu espero!
(Mocidade)
Rogério Simões
Se ao menos tu
Me dissesses qualquer coisa…
Pudesses falar comigo
Como falavas outrora…
Se ao menos eu te visse agora…
Talvez me visses de sacola
Num quadro qualquer de loisa
A escrever de novo na escola.
Mas não!
Partiste mais cedo…e eu quedei
Com a mesma ternura de outrora,
Carregado de riscos por fora
Para aqui envelhecendo fiquei!
Mas…
Se eu te pedisse para voltares
Seria de novo menino!
Prometia não ficar traquina,
Travesso, endiabrado, irrequieto.
Volta!..
Eu espero!
Prometo que não serei
Tudo o que não fui e não quero!
07-08-2004 11:08
Poemas de amor e dor
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