VIAGEM; QUEDA; VIRAGEM; LEVITAÇÃO
Ao meu querido avô paterno, António Antunes Simões.
Nasceu em 1881 na Pampilhosa da Serra – Aldeia Velha – casou na Póvoa e migrou para Lisboa em 1897.
Trabalhou como estivador e era um exímio tocador de guitarra.
Do pouco que sei do meu avô, diz meu pai, que terá ensinado o Armandinho a tocar guitarra. Foi sócio da Juventude Monárquica Conservadora tendo falecido na Póvoa em 1934.
VIAGEM; QUEDA; VIRAGEM; LEVITAÇÃO
(Romasi)
VIAGEM
No comboio a carvão
Duas carruagens distintas
Numa os que não vão…
Noutra os pelintras
QUEDA
Baixei à cidade
Dei serventia a pedreiro
Caí nas tabernas
E senti a vontade dos bêbados
VIRAGEM
Bebo copos a fio
Bebo copos a fio
E em troca de tudo
Soletro palavras
Vincadas a dedo…
Alvitras…
Nuvens douradas de medo…
Recorro a mim
E sigo os meus passos solitariamente…
LEVITAÇÃO
Desci mil degraus de hábito…
Apalpei outra, tanta, tristeza
Levitei sonhos
Esperanças de um dia…
Aguerri os meus passos
Na nocturna fortaleza….
Vasculhei no estrume
Anos a fim
Mas em troca da miséria
Sobrevivi a mim…
1971
Mesmo a propósito… Cá por coisas
“A emigração não é uma viagem de recreio; ninguém abandona com prazer a terra natal; a saudade da pátria é um mal que não tem compensação nem lenitivo. Quando se emigra é porque todas as esperanças acabaram, e porque o futuro, que se antolhava medonho, já deixou de ser futuro, e o infortúnio caiu como rochedo sobre a cabeça da sua vítima que foge quando pode, e tão depressa pode, da terra onde é assim esmagada. E não há direito para dizer ao que de tal modo se separa de uma sociedade mal organizada «não vades, que tendes aqui obrigações para cumprir» ”
António Corrêa Heredia
1822 - 1899