Pára
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(óleo sobre tela Elisabete Maria Sombreireiro Palma)
O CÉU PODE ESPERAR...
Rogério Martins Simões
Com a delicadeza de Tua mão,
Nas Tuas mãos
Com a mão na minha consciência
Consciente dos meus actos
Parcos e isolados
Eu me denuncio
Eu me fortaleço
E cresço
Eu me alindo
E deslindo...
Quem me dera ser
Um pedaço de céu!
Mas o céu pode esperar...
Espera!
Devolve-me o meu sorriso
Toca-me ao menos ao de leve
No meu movimento, no rosto
E leva para longe
Esta incerteza...
Este meu desgosto!
Vem!
Sopra sobre mim!
Pesadas estão as minhas mãos
Que não desarmam
Baralham-se
Confundem-se
Desalinham-se
Desarticulam-se
Que se cuide a natureza
Que me deu este estar
Pois a irei combater
Para ser…
E o céu pode esperar
Que Te importa que continue
Qual o mal que isso Te trás?
Traz-me vivo na esperança
Eis a Tua fortaleza
Que aliada à minha fraqueza
Me renova
E cresço
Me alindo
E deslindo
Quem me dera ser
Feliz e não sofrer
E o céu pode ir indo…
Indo para onde quiser
Que espere!
Pois não estou preparado!
Coloca as Tuas mãos nos meus cabelos
E deixa-me de novo sorrir.
24-01-2005
(Óleo sobre tela - Elisabete Maria Sombreireiro Palma)
(2008)
POESIA OU TALVEZ NÃO EM DIA MUNDIAL DA POESIA!
VIVA A POESIA!
POESIA
Rogério Martins Simões
Os poetas são operários da caneta
E trazem pensamentos errantes
que debutam no papel.
Serei poeta?
Que papel nos estará reservado?
E eu que nada sou,
serei o que o destino quiser,
porém, sou poeta!
Um poeta sonhador
a quem, tantas vezes,
lhe roubaram os sonhos.
Hoje estou nesta!
Mas, não irei desistir
de a escrever
ou de a chorar!
Hoje, apetece-me reflectir!
Não irei escrever poesia!
Aditarei palavras,
com palavras que
tenho espalhado por aí…
Que farei com os meus versos?
Sentir-se-á o lixo desconfortável,
com o seu peso?
E se os mandasse, mesmo, para o lixo?
- Não suavizariam o mau odor
que anda de altos…saltos?…
E na minha Pátria
quem liga à poesia?
Pouco me importa
que não tenha expressão!
Que pouco se fale de poesia.
- E se, em vez de medalhas,
medalhassem
com poemas Lusíadas
ou com versos de Caeiro?
Quantos conhecem a lírica de Camões?
- As chamadas elites culturais?
No meu caso,
nada de elites - sou povo!
Como é enorme o povo em – Pessoa!
Meu pai, meu mestre,
enchia-nos o prato
com saborosos poemas:
os seus e dos grandes poetas.
Mas isto é pelintrice
e pouco importa.
Importa é estar na berra.
Importa é mandar umas tretas
para que o povo se entretenha e não pense.
Ai quando o povo acordar!
Por mim não quero que pensem!
Tudo mudou!
Sem poesia
o mundo é menos sonhador,
é mais desumano!
Quando se escreve poesia
não se está só,
não estamos sós!
A poesia enche-nos a casa
de lágrimas
ou de sorrisos!
A Poesia reverte os sonhos desfeitos
em estrelas cadentes
para voltarmos, de novo, a sonhar.
Estaremos sós
quando as paredes
emparedarem
os pensamentos
e nem uma só lágrima se verta.
O que é a poesia?
O que é ser poeta?
A poesia é a magia
que espreita a ponta dos dedos
esborratados de tinta…
Ser poeta é quase morrer
e renascer
num canto ou num verso.
Paro! Tenho de parar!
Porque amanhã voltarei à rotina,
e sem rotina
não podemos viver.
Todos andamos num carreiro.
Para cá, para lá
sem saber ao que vamos.
Andamos,
corremos,
pensamos.
Como fazer para sobreviver
se não vemos!
Como podemos ver,
se nada há para ver.
E se vemos?
Poderemos parar para reflectir?
Deixam-te reflectir?
Que reflexão,
fazemos das nossas vidas?
Quantas televisões temos em casa?
Quantos tabuleiros se enchem de pratos
no desconforto da mesa vazia,
que esfria,
na espera?
Crescerá o bolor no pão que não sobra?
Que desconforto quando não há poesia!
ROMASI
SANTA PÁSCOA
Voltei a escrever e já não queria
Voltei a escrever e já não queria
Pensava ter esquecido este meu versejar
Ser poeta é criar e sofrer todo o dia
Passar ao papel o que a alma encontrar.
Este estado de alma que já não ousaria
Que nos faz sofrer, para me encontrar,
Deixa o meu corpo quando escrevo poesia,
Nos poemas que ela cria, para me libertar.
A ti que mais amo e sem querer
Se fico triste e te faço sofrer
Rosa eu te quero, rosas eu te dou.
E se tu me vires distraído ou disperso
Uma única coisa eu imploro e peço,
Espera! A minha alma não regressou.
Lisboa, 16 de Abril de 2004
MENTIA SE TE DISSESSE QUE MINTO
Rogério Martins Simões
Mentias se me dissesses… que pinto…
Não me esforço, peço ajuda, e tu vais
Ajeitas-me o nó da gravata… e o cinto.
Teus passos para mim são sempre mais…
Mentia era se eu dissesse que minto,
Que do meu corpo já não saem vendavais
Que os pés já me pesam e não os sinto
E que os meus passos para ti são demais.
E se te peso ao de leve e não quero
Tu bem sabes a razão do desespero
Não seja tamanha a razão do repeso
Pois se quis voar na ode de um poema
Irás encontrar em meus versos alfazema
Antes fosse manha a razão do meu peso.
10-08-2005 23:31
(Óleo sobre tela Elisabete M. Sombreireiro Palma)
( Elisabete Sombreireiro Palma a pintar)
Segredos, meu amor
(Rogério Martins Simões)
Segredos, meu amor
Hoje te quero revelar!
Se pudesse te daria o mundo:
A eternidade, meu amor profundo
Os poemas de amor - sem dor
Num canto belo se soubesse cantar!
Cantar, cantavas tu…e tão bem!
Pintar é a tua actual inspiração!
Reservo para ti também:
A poesia! Meu amor-perfeito;
Tempo de pausa e meditação!
A fantasia de alguém
Imperfeito!
Carente, terreno e pensante!
E se em momentos de inspiração
Parto por aí algo errante
Numa completa e intemporal dação
(Mas quente e vertical entrega)
Seja breve e que encante!
Minha alma nesse instante sossega.
26-05-2004 23:29
(A Dama com arminho Leonardo da Vinci)
FOI NUMA MADRUGADA DE JULHO
Foi numa madrugada de Julho
Quando as estrelas
se juntaram nos céus,
quando o sol teimava
em não arrefecer a noite,
e a lua irradiava
confundindo
as mãos dos namorados…
Andara embalado
no colo de minha mãe.
E ouvia serenamente
Na fusão das águas
O canto ameno que me embalava.
-Lembra-se minha mãe
dos pontapés que eu lhe dava?
-Recorda-se minha mãe
de me ouvir chorar,
Quando sem ver
me reconfortava
Passando docemente
a sua mão na barriga.
Ai como eu me sentia feliz
com as suas carícias.
Ai como era feliz
escutando o seu cantar.
Foi numa madrugada de Julho
Quando a lua espreitava
Quando a mãe terra
me chamava,
Rompi as águas,
E tinha à espera estrelícias
Majestosamente
espalhadas por seu corpo…
Foram tempos luminosos
quando a natureza me pariu
E me trouxe de volta os olhos
com que abracei de novo o Sol.
Lisboa, 29 de Janeiro de 2007
(Óleo sobre cartão Elisabete Sombreireiro Palma)
PIOR QUE A DÚVIDA
Rogério Martins Simões
Pior que a dúvida
É o silêncio
quando o silêncio pesa
Pesam as palavras
Não há certezas
A única certeza é a morte
E na dúvida
Ressoam os pensamentos.
As inquietações
O azar ou a sorte
É como se não existissem
soluções
Jogamos todos os dias a roleta…
E, estranhamente,
Quando estamos na valeta
O tempo passa lentamente
- Tão devagar que o tempo medra…
É como que se conservasse uma pedra
no sapato
Lancei fora tantas vezes a pedra…
E no ricochete
Vaporizei pó
e de novo se fez pedra
(Óleo sobre tela Elisabete Sombreireiro Palma)
DIZER PARA QUÊ?
Rogério Martins Simões
Dizer para quê?
Falar para quê?
Sentir para quê?
Viver para quê?
Faço perguntas:
Sem falar!
Sem sentir!
Sem viver!
Solto o meu ouvido
E o meu olhar de lince
À procura de resposta:
Sem falar!
Sem sentir!
Ou viver!
E por mais que pergunte
Sem dizer
Não consigo ver…
Falar!
Sentir!
Ou viver!
1979
DIÁSPORA
Rogério Martins Simões
Gosto de viajar para casa!
Regressar é um desejo de quem parte
e não quer ir.
Vou!
Já fui tantas vezes na aventura
calcetando pedras,
dormitando em tábuas,
onde me perco sem contemplações,
encalhando nos confins das terras,
amealhando uns tostões.
Tivesse asas para acompanhar o
pensamento
porque as asas só se levantam tendo
penas.
Penas tenho!
Pena não tenho!
Da fome e dos xailes pretos…
Deixei em casa corpos em metamorfose,
silêncios e silvas,
que crescem entre muros e dão
amoras…
Comprei a última tesoura de podar
Tenho a barriga a dar horas
E um sonho para voltar...
A vinha ficou brava…
A horta e a casa fechada
são agora um pasto de chamas.
- Aldeia porque me chamas filho
se só tive madrasta!?
- Nação porque me pedes o voto
se não te sei ler!?
Gosto de regressar mas não posso
ficar…
Falo agora esta meia língua estranha,
porque já esqueci a minha…
Volto a percorrer as estradas
que me afastam do que resta...
Levo uns trocos para a viagem
e quando me virem vai ser cá uma
festa…
Vou petiscar couratos
e beberei uns copos
com os rapazes do meu tempo.
Regressarei um dia para cuidar da
vinha…
Por agora durmo a sesta…
Voltarei para cumprir a promessa.
E beberei nos corpos deixados,
um néctar guardado,
entre fragas e pinheiros…
Verberarei palavras de fel,
embrulhadas com cargas de explosivos
abrindo estradas,
caminhos que me deixaram partir
Agora tenho de ir…
Regressarei à casa nova que construí,
e em cada degrau,
limparei as lágrimas definitivas
da minha saudade.
Vou partir mas tenho de regressar…
Oh Pátria amada,
onde se acolhem os sonhos do meu
regresso,
porque me deixaste partir?
Oh Pátria amada deixa-me regressar
ainda que só te enxergue,
no que resta,
penhascos e pedras pretas.
Quero todo o barro, granito ou lousa
Quero a água cristalina que emergia das
fragas.
Quero depositar uma coroa de rosas
nas campas rasas dos meus pais.
E um coroa de espinhos nos despojos
dos que me obrigaram a seguir…
Sonhei voltar.
Não voltarei para partir…
Não voltarei a sonhar.
Vou ficar
Tenho filhos e netos neste lugar
Retalha a saudade no que resta do meu
corpo!
Viajarei gavião….
Por agora recebo notícias do meu país
- Dizem que as motas todo-o-terreno
debutaram nas silvas da minha aldeia…
E se a língua portuguesa é a minha raiz
profunda,
afundo as minhas mágoas por não poder
regressar,
Porque, agora, regresso, escreve-se
noutra língua
e já nem sei o caminho de retorno…
8/03/2007
(Este poema é dedicado ao grande poeta português Armando Figueiredo - Daniel Cristal e a todos os emigrantes na diáspora.)