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POEMAS DE AMOR E DOR

Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA Poeta: Rogério Martins Simões Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004 Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda

POEMAS DE AMOR E DOR

Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA Poeta: Rogério Martins Simões Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004 Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda

Faltam-me as palavras, sobra-me a poesia: Carta a meu pai

 

“Faltam-me as palavras

Sobra-me a poesia.”

 

CARTA A MEU PAI

Rogério Martins Simões

 

 

Às vezes penso que

Se existem certos actos

Ditos de loucura,

Encarados e vistos como tal,

Têm como sublime vantagem

De se concretizarem nos sonhos.

 

Pai: há por aí tantos loucos,

Encarcerados na sua sadia loucura,

Que se verdades dizem

Não passam de uns insanos.

 

Não terão sido loucos os Santos,

E tantas pessoas nobres

Que se despiram

Para oferecerem os seus trajes aos pobres?

Não são loucos os sonhadores

De um mundo melhor,

Que doam a vida a uma causa maior?

 

Terá sido loucura

Viajar no espaço da incerteza

E aterrar no império do esplendor

Como o fez São Francisco de Assis!

 

Pai: Eu sei que sou um sonhador:

Mas nem sempre sou o que pareço

E se pareço ser o que não sou,

Sou aquilo que bem conheço.

 

Dizia Pessoa que poeta é ser fingidor!

 

- Mas eu não finjo,

Obrigam-me a fingir!

- Eu não morro,

Obrigam-me a morrer!

- Eu não sofro,

Obrigam-me a sofrer!

E se sofrer tanta dor não compensa,

Ser solidário recompensa

Exigindo que a vida seja melhor

Onde a ela exista e aconteça.

 

Quando comecei a escrever,

Sem ter a menor ideia do que lhe iria dizer,

Faltavam-me as palavras

Que neste instante tanto me sobram.

Pai!

Estas palavras são hoje inteiramente para si

Apesar de me ter perdido em deambulações.

 

 

Mas, tenho tantas palavras para si, meu pai

 

Ainda há pouco, enquanto conduzia,

Latejavam-me os sentimentos

Tinha na cabeça searas de pensamentos

Deambulando em movimentos:

- Brotavam-me tantas emoções!

- Tantas lembranças!

- Tantas recordações!

 

Sabe, meu pai,

Herdei de si esta enorme fortuna

Que sei agora que desprezam:

O sentido da honra;

A sensibilidade;

A humildade;

E acima de tudo a honestidade.

 

E se rico não fico,

Com esta tamanha riqueza,

É por rico eu fui e serei

Na poesia que de si herdei

E que nos recitava de cor à mesa.

Tantos poetas! Tantos poemas.

Como o dia de anos

(ou desenganos), de João de Deus,

Que o pai recita quase sempre em seus anos.

 

Pai: Também sou poeta

 

Memórias

(Rogério Martins Simões)

 

Voo nas memórias de meu pai!

Que conta sem conto,

Os contos da nossa aldeia.

Era menino!

E certa noite ao luar,

Minha avó,

De nome Maria,

Ensinava meu pai a contar.

 

Pairo nas memórias de meu pai!

Que conta sem conto,

Os contos da nossa aldeia.

Era menino!

E todos os dias ao jantar

Contava para mim,

Histórias de fantasia e de encantar:

 

Irmãos éramos três,

Nazaré, Laura e José.

Minha mãe a todos nos fez

De força, coragem e muita fé!

 

Recupero aqui

As memórias de meu pai

Que hoje conto

Porque me encanta!

Era uma vez, na nossa aldeia,

Na Póvoa ao fundo do lugar,

Minha avó que era uma santa,

Ensinava meu a pai a rezar.

 

Ave-maria.

 

Acabo como comecei se acabar eu queria:

Faltam-me as palavras sobra-me a poesia.

 

Mil beijos deste seu filho,

Rogério Martins Simões

 

 

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CORRO EM SENTIDO CONTRÁRIO

 

(Óleo sobre tela

Elisabete Sombreireiro Palma)

 

 

CORRO EM SENTIDO CONTRÁRIO
(Rogério Martins Simões)
 
Corro em sentido contrário
Desço o rio a pé, molhado à cintura
Quem me entende?
Quem me deita?
Quem me estende?
Quem me aceita?
 
Seco a cabeça no limiar da secura
Deixem correr o rio…
Que me entende!
Que me ajeita!
Que me estende!
Que me aceita!
 
Aceito o colo da ternura
Nado numa pista de cinza
Estou cansado
Das falsas partidas…
Prometidas
Incumpridas
Desgastadas
Ando aos recuos
Ao contrário das vistas…
 
Vistas as coisas, estamos nus…
 
O mundo é dos vestidos,
Compridos,
Rasgados
Comprimidos
Decotados
O mundo é dos modelos
Dos esbeltos e dos belos
Das farsas
Dos comparsas…
 
Tiraram-me as medidas…
Encurtaram as pistas…
Recuei
Minguei
Encontrei a loucura...
 
07-10-2005 18:24

 

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A MONTANHA

(Foto de José Augusto Simões - da autoria do padre pedro)

(José Augusto Simões)

Este será, certamente, um marco importante na minha vida. Meu pai com 84 anos, poeta e homem bom voltou a escrever um magnífico poema.

Os poetas são assim. De repente quando menos se espera ressuscitam nas palavras

Reparto convosco este momento de muita felicidade, pois desta vez - meu mestre - resistiu à tentação de escrever e não rasgar.

Por vezes um homem chora. Hoje choro de felicidade com a beleza deste poema

Pai,

Que montanha nos reserva o futuro...

Se o futuro passou sempre por suas mãos...

Beijo as suas mãos, meu querido pai!

 

A MONTANHA

(José Augusto Simões)

 

Subi a montanha

Para ver a beleza

Queria falar sozinho

Com a natureza

 

Olhei para o céu

Mas não vi ninguém

Só vi umas nuvens

Em forma de véu

 

Ao chegar ao alto

Era muito cedo

Havia uma voz

- Tu não tenhas medo

 

Chegando ao cimo

Logo me deitei

Tudo era um sonho

Quando acordei

 

Desconhecia tudo

Não sabia nada...

Queria subir mais alto

Mas não tinha estrada

 

Olhei para o lado

E vi um caminho

Uma voz me disse

Não subas sozinho

 

Pensei duas vezes

Não quis arriscar

Do alto do monte

Já só via o mar

 

Como era tarde

Pensei em descer

O medo era tanto

Que me fez tremer

 

Assim a tremer

Vi uma escadaria

Desci por ela

Vi o que queria...

15/8/2006

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Eu vi meu pai chorar

(Fotografia gentilmente cedida por Padre Pedro – Pampilhosa da Serra)

 

 

Eu vi meu pai chorar

I.

Meu pai legou-me a cadeira que há 57 anos comprou e onde sempre se sentou. Quando a retirou do escritório e me a foi dar:

eu vi o meu PAI chorar!

 Era uma vez um menino órfão que bem cedo abandonou a sua aldeia - A Póvoa - Pampilhosa da Serra.

Deixou para trás a bola de trapos, os companheiros de escola, da brincadeira e do trabalho, as pessoas a quem lia e escrevia as cartas e o trabalho duro da aldeia.

Era muito cedo a manhã. A sua mãe, doente, rezou consigo as últimas orações e entregou ao menino, um saco de pano com as poucas "roupitas coçadas" e um naco de broa para disfarçar a fome na viagem.

Trazia consigo a vontade de vencer e na bagagem a mocidade perdida.

Tinha uma memória espantosa que conservou toda a vida.

Carregava no pensamento a aventura. Era responsável e "magicava" por uma vida melhor: secreta ilusão de quem foi incapaz de renegar a educação.

Percorreu a pé grande distância que o separava da camioneta e soletrava, palavra por palavra, os últimos conselhos de sua mãe.

Finalmente o comboio a carvão que apanhou na Lousã e no dia seguinte chegou à cidade que a partir daí chamou de sua.

Lisboa, nesse tempo, fervilhava de trabalhadores migrantes na sua própria Nação.

A Europa estava em guerra mas o menino, disso pouco sabia. Recordava-se de um velho parente escutar a telefonia, às escondidas, e de ouvir falar nisso em surdina. Depois não havia jornais: tinha mato para apanhar e o estrume com que se fertilizavam as leiras para carregar.

Tão pequeno e já "alombava" os cabazes da mercearia:

 - Que importa se já estava habituado! Afinal os passeios eram melhores que o caminho das cabras.

Mas sonhava! Todos os meninos sonham!

Às vezes, ainda há pouco se tinha deitado e já estava levantado para voltar a carregar as mercearias. E, enquanto subia as escadas mais íngremes, rezava à espera de um milagre que trouxesse de volta a escola para um dia ser "doutor".

Mas sonhava! Sonhava, digo eu: pois o sonho é a compensação de quem sofreu.

O menino queria estudar! Ser alguém! Mas a tragédia tornou a voltar e numa Terça-feira soube da morte de sua mãe lá na Aldeia!

Nas vésperas, houve uma grande azáfama na Póvoa!

A sua mãe, de nome Maria, fez questão em anunciar, nessa sexta-feira, que no dia seguinte partiria numa viagem para o Céu.

E disse à irmã do menino:

- Laura limpa muito bem a casa e logo, quando acabares, vai chamar o Povo.

Mas a menina chorava enquanto limpava a casa com a vassoura de carqueja.

Por fim, lá foi de casa em casa e transmitiu a mensagem da "Ti Mariquitas" e o Povo da Aldeia foi em peso sentir o peso das palavras de despedida da minha avó.

Chamou de novo a irmã do menino, e disse:

- Laura vai chamar o "Ti Manuel Barrocas" para me tirar as medidas para fazer o meu caixão.

A irmã do menino chorava, não queria ir mas foi!

O dia chegava ao fim e com ele o Sábado (12 de Março de 1938), fim anunciado da mãe do menino.

Dizem que a sua mãe se despediu de todos - pediu perdão de todas as suas ofensas, se ofensa tivera para com alguém.

Dizem que nessa tarde de Sábado elevou as mãos aos Céus e clamando por Deus a sua alma se elevou para junto dos seus...

Faço aqui um parágrafo: Toda esta história não é uma "estória" ou uma fábula.

Recordo-me do menino, já pai, meu pai, contar que a sua mãe, a minha avó, ainda disse:

- O meu filho escreveu-me hoje uma carta! Mas eu já não a vou ouvir porque amanhã, Sábado, vou morrer e a carta só vai chegar na segunda-feira.

Minha avó faleceu a um Sábado, no dia 12 de Março de 1938, e foi sepultada ao Domingo, na Pampilhosa da Serra, como ela sempre pediu ao seu DEUS.

Meu pai só recebeu a notícia por carta, na mercearia da Rua do Grilo, na Terça-feira dia 15 de Março de 1938.

Tudo isto foi-me contado em menino por meu pai e confirmado por parentes que presenciaram os factos e a sua vida.

 

Rogério Simões

Lisboa, 25 de Agosto de 2004

 

PAI


No céu vejo uma estrela.

No etéreo, Deus nos receberá:

Meu pai é a luz mais bela

Que no firmamento brilhará.

 

Vou pedir a Deus por escrito,

Que nos junte aos dois no céu

E me chame ao primeiro grito

Com a força que Ele nos deu.

 

23-03-2004

Rogério Simões

25-08-2004 19:31:39

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amrosaorvalho.gif

MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
 
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975

Todos os poemas deste blog, assinados com pseudónimo de ROMASI ou Rogério Martins Simões, estão devidamente protegidos pelos direitos de autor e registados na Inspecção-Geral das Actividades Culturais IGAC - Palácio Foz- Praça dos Restauradores em Lisboa. (Processo 2079/2009). Se apreciou algum destes poemas e deseje colocar em blog para fins não comerciais deverá colocar o poema completo, indicando a fonte. Obrigado

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