Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA
Poeta: Rogério Martins Simões
Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004
Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA
Poeta: Rogério Martins Simões
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Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
(Fotografia gentilmente cedida por Padre Pedro – Pampilhosa da Serra)
Eu vi meu pai chorar
I.
Meu pai legou-me a cadeira que há 57 anos comprou e onde sempre se sentou. Quando a retirou do escritório e me a foi dar:
eu vi o meu PAI chorar!
Era uma vez um menino órfão que bem cedo abandonou a sua aldeia - A Póvoa - Pampilhosa da Serra.
Deixou para trás a bola de trapos, os companheiros de escola, da brincadeira e do trabalho, as pessoas a quem lia e escrevia as cartas e o trabalho duro da aldeia.
Era muito cedo a manhã. A sua mãe, doente, rezou consigo as últimas orações e entregou ao menino, um saco de pano com as poucas "roupitas coçadas" e um naco de broa para disfarçar a fome na viagem.
Trazia consigo a vontade de vencer e na bagagem a mocidade perdida.
Tinha uma memória espantosa que conservou toda a vida.
Carregava no pensamento a aventura. Era responsável e "magicava" por uma vida melhor: secreta ilusão de quem foi incapaz de renegar a educação.
Percorreu a pé grande distância que o separava da camioneta e soletrava, palavra por palavra, os últimos conselhos de sua mãe.
Finalmente o comboio a carvão que apanhou na Lousã e no dia seguinte chegou à cidade que a partir daí chamou de sua.
Lisboa, nesse tempo, fervilhava de trabalhadores migrantes na sua própria Nação.
A Europa estava em guerra mas o menino, disso pouco sabia. Recordava-se de um velho parente escutar a telefonia, às escondidas, e de ouvir falar nisso em surdina. Depois não havia jornais: tinha mato para apanhar e o estrume com que se fertilizavam as leiras para carregar.
Tão pequeno e já "alombava" os cabazes da mercearia:
- Que importa se já estava habituado! Afinal os passeios eram melhores que o caminho das cabras.
Mas sonhava! Todos os meninos sonham!
Às vezes, ainda há pouco se tinha deitado e já estava levantado para voltar a carregar as mercearias. E, enquanto subia as escadas mais íngremes, rezava à espera de um milagre que trouxesse de volta a escola para um dia ser "doutor".
Mas sonhava! Sonhava, digo eu: pois o sonho é a compensação de quem sofreu.
O menino queria estudar! Ser alguém! Mas a tragédia tornou a voltar e numa Terça-feira soube da morte de sua mãe lá na Aldeia!
Nas vésperas, houve uma grande azáfama na Póvoa!
A sua mãe, de nome Maria, fez questão em anunciar, nessa sexta-feira, que no dia seguinte partiria numa viagem para o Céu.
E disse à irmã do menino:
- Laura limpa muito bem a casa e logo, quando acabares, vai chamar o Povo.
Mas a menina chorava enquanto limpava a casa com a vassoura de carqueja.
Por fim, lá foi de casa em casa e transmitiu a mensagem da "Ti Mariquitas" e o Povo da Aldeia foi em peso sentir o peso das palavras de despedida da minha avó.
Chamou de novo a irmã do menino, e disse:
- Laura vai chamar o "Ti Manuel Barrocas" para me tirar as medidas para fazer o meu caixão.
A irmã do menino chorava, não queria ir mas foi!
O dia chegava ao fim e com ele o Sábado (12 de Março de 1938), fim anunciado da mãe do menino.
Dizem que a sua mãe se despediu de todos - pediu perdão de todas as suas ofensas, se ofensa tivera para com alguém.
Dizem que nessa tarde de Sábado elevou as mãos aos Céus e clamando por Deus a sua alma se elevou para junto dos seus...
Faço aqui um parágrafo: Toda esta história não é uma "estória" ou uma fábula.
Recordo-me do menino, já pai, meu pai, contar que a sua mãe, a minha avó, ainda disse:
- O meu filho escreveu-me hoje uma carta! Mas eu já não a vou ouvir porque amanhã, Sábado, vou morrer e a carta só vai chegar na segunda-feira.
Minha avó faleceu a um Sábado, no dia 12 de Março de 1938, e foi sepultada ao Domingo, na Pampilhosa da Serra, como ela sempre pediu ao seu DEUS.
Meu pai só recebeu a notícia por carta, na mercearia da Rua do Grilo, na Terça-feira dia 15 de Março de 1938.
Tudo isto foi-me contado em menino por meu pai e confirmado por parentes que presenciaram os factos e a sua vida.
Rogério Simões
Lisboa, 25 de Agosto de 2004
PAI
No céu vejo uma estrela.
No etéreo, Deus nos receberá:
Meu pai é a luz mais bela
Que no firmamento brilhará.
Vou pedir a Deus por escrito,
Que nos junte aos dois no céu
E me chame ao primeiro grito
Com a força que Ele nos deu.
23-03-2004
Rogério Simões
25-08-2004 19:31:39
Poemas de amor e dor
conteúdo da página
publicado às 17:07
MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975
Todos os poemas deste blog, assinados com pseudónimo de ROMASI ou Rogério Martins Simões, estão devidamente protegidos pelos direitos de autor e registados na Inspecção-Geral das Actividades Culturais IGAC - Palácio Foz- Praça dos Restauradores em Lisboa. (Processo 2079/2009). Se apreciou algum destes poemas e deseje colocar em blog para fins não comerciais deverá colocar o poema completo, indicando a fonte. Obrigado