Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA
Poeta: Rogério Martins Simões
Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004
Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA
Poeta: Rogério Martins Simões
Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004
Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
(Foto datada de 22/09/1947, Hospital de Arroios, Médicos, Enfermeiras, Administrador e a minha madrinha, Maria da Nazaré Simões, natural da Pampilhosa da Serra, Póvoa, que consagrou toda a sua vida aos doentes e aos mais pobres.)
Ainda sinto os cheiros da aldeia e o calor do verão.
Ainda recordo a fonte velha e a sua água refrescante;
O Cântaro na cantareira da casa da Eira.
A panela de ferro, a trempe e a caçoila em cobre,
O borralho e a braseira.
Ah! Como me sentia e era feliz.
Por isso estou de regresso
À Aldeia das horas longínquas.
Madruguei e ninguém me apanha.
Já deixei para trás o castelo que fica no alto da aldeia.
Castelo de sonhos? Cada povo tem o seu…
Estou a caminho da Feteira.
Vou provar os figos, e os abrunhos,
Os cachos, as ginjas e as maças.
E os morangos que crescem nas paredes das hortas.
Como leem estou marcado.
Sou um poço de saudade!
Por isso regresso à aldeia dos meus avós.
À aldeia dos afetos e das minhas recordações.
Ali vivi em liberdade
Ali consolidei a minha formação
Ali aditei valores à minha vida.
Aquela gente ensinou-me a dar e a receber.
A repartir e a não estragar o pouco que tinham.
Aquela gente boa ensinou-me a amar.
Convidem-me para provar as filhoses.
A sopa de feijão atulhada com couves e faceira do porco.
O lombo conservado em banha na panela de barro.
E se tiver frio e as casas cheias dormirei no palheiro,
Ou no sobrado por cima do curral das cabras!
Não! Não quero despertar o sonho
O despertar é um coice de mula que me deixa atordoado.
Agora tenho de ir!
Não posso, nem devo, fazer esperar o povo.
O povo não parte sem mim,
Nem eu parto sem o povo!
Vamos todos como os da Póvoa!
Meco, 31/05/2017 17:18:00 8/02/2019
(Pequena homenagem ao povo de uma aldeia, a aldeia do meu pai e dos meus avós paternos, a Póvoa, Pampilhosa da Serra, que por ter sido tão unida ainda tem um lema VAMOS TODOS COMO OS DA PÓVOA)
Albano Antunes Simões, irmão do meu avô António Antunes Simões, nasceu na Pampilhosa da Serra, (Vila no lugar da Aldeia Velha) no dia 10/7/1894 e faleceu a 17/1/1956 tendo sido sepultado no talhão dos Combatentes no Cemitério do Alto de S. João, Lisboa.
Filho de Francisco Simões e de Emília de Jesus, ele natural da Vila – neto paterno de José Simões da Vila e de Maria Leitoa.
Sua mãe Emília de Jesus, da Póvoa era filha de Bernardino Antunes e Maria de Almeida de Moninho.
Foi combatente na 1ª Grande Guerra 1914 – 1918 tendo sido ferido em combate.
(No centenário da Batalha de La Lys, para memória futura, deixo aqui o que sei sobre a participação do meu tio em França onde as tropas portuguesas foram derrotadas pelo poderoso exército Alemão. Em memória de todos quantos combateram e morreram na Batalha de LA LYS em 9/04/1918)
Ao meu querido avô paterno, António Antunes Simões.
Nasceu em 1881 na Pampilhosa da Serra – Aldeia Velha – casou na Póvoa e migrou para Lisboa em 1897.
Trabalhou como estivador e era um exímio tocador de guitarra.
Do pouco que sei do meu avô, dizia meu pai, que terá ensinado o Armandinho a tocar guitarra. Na verdade em investigação posterior constatei que o meu avô viveu no Pátio do Quintalinho quando o Armandinho tinha 5 anos de idade. Foi sócio da Juventude Monárquica Conservadora para poder tocar guitarra, tendo falecido na Póvoa em 1934.
Palavras e sentimentos; 84º aniversário do meu pai
Rogério Martins Simões
Em 2006, no 84º aniversário do meu querido pai, José Augusto Simões, escrevi e dirigi as palavras que seguidamente reproduzo
Dado que as mesmas são genuínas e dão uma perfeita imagem do meu pai resolvi colocá-las aqui, tal como o fiz em 2006 quando as editei no meu blog POEMAS DE AMOR E DOR.
Essas palavras já foram plagiadas, pois as encontrei assinadas por outras pessoas. Por isso lamento pois plagiar sentimentos é dor maior que a imbecilidade de quem se dá ao trabalho de plagiar.
E com isto não vos ocupo mais tempo. Espero que tenha sido capaz de expressar os meus sentimentos, e a minha admiração, para com um pai. Esta é a homenagem possível, e pública, que presto a meu pai que faleceu passados 10 anos com 94 anos de idade.
Rogério Martins Simões
Meco, 11/06/2017
PAI
Hoje, 19 de Maio de 2006, quis Deus que fosse o seu aniversário, e que aniversário meu Deus…: 84 lúcidos anos!
Pai eu sei que no seu bilhete de identidade consta ter nascido a 20 de Maio de 1922. Mas a essa data está errada!
Pai há tantas coisas erradas nos registos!
Se eu procurasse no Registo pela data do seu nascimento havia de ser o “bonito”.
E se eu insistisse, e dissesse que o pai nasceu no dia 19 em vez do dia 20, chamar-me-iam “teimoso” ou “louco varrido”.
É por isso que há por aí tantos loucos, encarcerados na sua sadia loucura, e se verdades dizem não passam de uns insanos.
Às vezes penso: se existem certos actos ditos de loucura, encarados e vistos como tal, eles têm como sublime vantagem de se concretizarem nos sonhos.
Não foram loucos os Santos, e tantas pessoas nobres que se despiram para oferecerem os seus trajes aos pobres!
Não são loucos os sonhadores de um mundo melhor, os que dedicaram toda uma vida a uma causa maior!
Foi loucura viajar no espaço da incerteza e aterrar no império do esplendor como o fez São Francisco de Assis!
Eu sei que sou um sonhador:
nem sempre sou o que pareço!
E se pareço ser o que não sou,
sou aquilo que bem conheço.
Dizia o poeta: que ser poeta é ser fingidor!
- Mas eu não finjo, obrigam-me a fingir!
- Eu não morro, obrigam-me a morrer!
- Eu não sofro, obrigam-me a sofrer!
E se sofrer tanta dor não compensa, ser solidário recompensa exigindo que a vida seja melhor onde a ela exista e aconteça.
Pai! Estas palavras são hoje inteiramente para si apesar de me ter perdido em deambulações.
Quando comecei a escrever, sem ter a menor ideia do que lhe iria dizer, sobravam-me as palavras. Agora, faltam-me as palavras que às vezes tanto me sobram. Mas tenho tantas palavras para si, meu pai!
Ainda há pouco, enquanto conduzia, latejavam-me os sentimentos e tinha na cabeça searas de pensamentos deambulando em movimento.
- Brotavam-me tantas emoções!
- Tantas lembranças!
- Tantas recordações!
Sabe, meu pai, herdei de si esta enorme fortuna que agora sei que desprezam: O sentido da honra; a sensibilidade; a humildade e acima de tudo a honestidade e se rico não fico, com esta riqueza tamanha, é porque me vejo aflito, quando aflito eu fico, para ajudar os seus netos.
Pai parabéns! Porque hoje completa 84 anos.
Como vê, desta vez, não me esqueci, se alguma vez esquecer o esqueci.
Que filho poderá esquecer um ser tão precioso como o pai!?
Recorda-se, meu pai, de nos declamar tanta poesia!?
Tantos poetas! Como este poema de “dia de anos” (ou desenganos), de João de Deus, que o pai recitava, sempre, em seus anos:
(Do lado esquerdo a capela de Santa Eufémia. Do lado direito a casa que o meu falecido primo mandou restaurar e que pertence a 4 Herdeiros e mais uns quantos a quem se devem tornas.)
PÓVOA: REZAS, TRADIÇÕES E MESINHAS
Rogério Martins Simões
Tal como a minha avó fazia, meu pai rezava sobre a minha cabeça as mesmas orações que a minha avó lhe rezava. Algumas são autênticas “ladainhas” e nunca as consegui decorar. Havia uma que era rezada três vezes e era assim: Cruz digna, cruz magna, coisa que Deus fez em si, coisa má não venha aqui. E rezava, três vezes, o Pai Nosso.
O quebranto, na Póvoa, era tirado a animais e pessoas. Punham água dentro de um púcaro de barro e numa pequena fogueira queimavam quatro paus. Quando estavam em brasa agarravam os paus com uma pequena tenaz, que deixavam cair na água e rezavam orações já perdidas. Repetiam por três vezes e quando as brasas vinham ao cimo da água o quebranto já tinha passado.
Existiam tradições bem interessantes e quiçá ainda conhecidas de algumas pessoas da Póvoa: “O DIA DE SANTA CRUZ”.
Em Maio, as pessoas da aldeia, faziam cruzes, em madeira, que colocavam em todas as hortas que tinham cultivado.
Recordo que foi com muito labor e sacrifício que este nobre e valente povo construiu as hortas. Com a tradição de “O DIA DE SANTA CRUZ “procurava-se pedir a proteção divina para que as trovoadas, de Maio, não causassem enxurradas e não destruíssem as terras.
Por falar em trovoadas, quando as havia e eram fortes, as mulheres da aldeia rezavam orações a interceder pela preservação das suas casas e das casas dos vizinhos.
Bem interessante era o ritual do “OFERECIMENTO DE LUZ AOS MORTOS”.
Quando morria alguém, na Póvoa, iam de todas as casas para o velório. Todas as mulheres levavam uma candeia de azeite acesa, que depositavam, na sala, onde estava o corpo, para iluminar a alma do defunto. Depois, todos rezavam o terço durante a noite que ofereciam por sua alma. Arremata o meu pai que nesse dia a família não fazia comida e que era oferecida pelos vizinhos.
Já no Carnaval “CORRIAM O ENTRUDO”. Dois rapazes, um de cada lado da casa visada, ou da povoação, tocavam cornetas, com bastante sonoridade, e proclamavam alto e a bom som factos divertidos, de escárnio e maldizer, relacionados com pessoas daquela casa ou da aldeia.
Tal como noutros locais existiam as “JANEIRAS”.
O grupo era composto por homens e rapazes. Tocavam guitarras, harmónios, ferrinhos, e percorriam toda a aldeia, cantando, parando em todas as portas, com o fim de obterem chouriços, carne ou lombo de porco, vinho e outras iguarias.
O meu pai recorda-se de uma quadra que contavam e era assim:
“Senhora que está á fogueira
Assentada na sua cortiça
Deite a faca ao seu fumeiro
E traga já uma chouriça.”
Esta recolha de alimentos tinha por finalidade realizar um grande banquete comunitário, em dia de reis, e acabava tudo em festa.
Mais uma vez se nota aqui a unidade deste povo que, ainda, perdura noutras tradições.
Finalmente uma tradição que muitos, como eu, conhecem quase sem dar por isso. Tenho pena que não se tenha mantido nestes novos tempos de alheamento total.
Diz o meu pai que quando qualquer pessoa saía da Póvoa, isto é, quando se ausentava por muito tempo, a pessoa que deixava a aldeia ia a todas as casas dizer adeus até ao seu regresso.
Quando voltavam à aldeia da Póvoa iam, os que lá estavam, à casa do que tinha chegado para o cumprimentar.
Quanto às “MEZINHAS” era hábito enraizado em todos os Beirões. Os serranos tinham por hábito curar as suas “maleitas”, doenças diversas, com diversas flores e plantas.
Utilizavam a flor de laranjeira; a carqueja; o sabugueiro; a marcela; folhas de oliveira; o alecrim; a erva-cidreira; as urtigas; hortelã e outras. Para curar a constipação utilizavam as papas de linhaça que num pano colocavam no peito, mas sempre quente, e bebiam aguardente com mel.
Para as dores do corpo esfregavam-se com aguardente de mostarda.
Seguindo a descrição do meu pai, a quem mais uma vez tive de recorrer, na Póvoa não só se semeava a mostarda como também a linhaça.
A mostarda era semeada nos alfobres, no nosso caso, no Vale da Maia.
Quando a planta tinha as sementes secas, era colhida e sacudida para se soltarem os pequenos grãos numa manta ou toalha branca.
Diz meu pai que a minha avó recolhia cerca de 3 a 4 litros de mostarda, que guardava num saquinho de pano muito bem tapadinho.
Faziam a mesinha e o que restava era guardado dentro do saco, na arca do milho, ou pendurada nas lojas ou em outro lugar seco.
A preparação era simples: pegava-se em meio litro de aguardente e despejam-se duas colheres de sopa de mostarda que se deixavam em infusão. Depois utilizava-se e ia-se acrescentando mais aguardente, mais mostarda, até se voltar fazer tudo de novo.
Utiliza-se para curar constipações ou para aliviar as dores no corpo.
A restante mostarda era para dar aos vizinhos.
Mais uma lição de solidariedade deste povo.
Também cultivavam e colhiam a linhaça. Depois era cozida e pisada num almofariz. Após ter sido esmagada era aquecida em papa, embrulhada num pano e colocada no peito ou nas costas para tratarem as graves constipações.
Toda a gente tinha linhaça e mostarda em casa.
Também semeavam tabaco na primavera. Era plantado às escondidas, em lugares afastados das hortas.
Termino aqui o que o meu falecido pai me contou sobre a sua Aldeia, a Póvoa: num tempo em que muitos lá viviam se ajudavam mutuamente e para resolver algum “assunto” iam todos juntos
Partiam as pessoas ficou o lema:
“VAMOS TODOS COMO OS DA PÓVOA”
(parte de uma entrevista ao Serras online)
Poemas de amor e dor
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publicado às 21:20
MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975
Todos os poemas deste blog, assinados com pseudónimo de ROMASI ou Rogério Martins Simões, estão devidamente protegidos pelos direitos de autor e registados na Inspecção-Geral das Actividades Culturais IGAC - Palácio Foz- Praça dos Restauradores em Lisboa. (Processo 2079/2009). Se apreciou algum destes poemas e deseje colocar em blog para fins não comerciais deverá colocar o poema completo, indicando a fonte. Obrigado