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NUVEM
Rogério Martins Simões
Havia uma nuvem que enfeitiçava,
Distendi as minhas asas e ceguei,
E quanto mais perto dela chegava,
Mais afastado, de mim, eu fiquei.
Cheguei a pensar que passava…
Mesmo passando o que passei…
Quando o vento com ela dançava,
Perdido, de mim, não mais me achei.
Pela calada da tarde desaparecia…
Era tarde e tão cedo que nem via
Que o silêncio, na noite, madrugava…
E quando a noite adormecia vestida,
Lamentando a minha triste vida,
No revés dos seus olhos chorava.
CAMPIMECO, Meco 10-09-2012 16:14:41
ABANDONO…
Rogério Martins Simões
Olhou as paredes, estavam nuas,
Sem compreender todos os porquês.
Fecharam as portas e eram duas…
Antes morresse de uma só vez.
Tinha os cabelos brancos das luas,
Trazia nas mãos o terço que fez,
Desfiando orações que eram suas,
Quanto numa lágrima se desfez.
Entrou, olhou, e sentiu-se perdida.
Era tão triste o seu final de vida:
Estranho era aquele novo lugar.
E quando já pareciam dormir,
Cercada, na luz pediu p´ra partir:
Sorriu! E não mais voltou acordar…
Campimeco, Meco 12-12-2012 23:58
ZUMBIDO
Rogério Martins Simões
Lá fora,
No colar da escuridão,
Percute o vai e vem
Das ondas do mar.
Mandei calar o vento
E o mar amainou.
Pedi silêncio à coruja
E ela acordou.
Veio o mocho
E acabou por anuir.
Lá fora
a noite nem é de grilos...
e não consigo dormir!
Aqui, nos meus ouvidos,
Um zumbido ruidoso
Corrompe este pacto de silêncio.
Amanhã,
Ordenarei ao mar
E ao vento,
Ao mocho, à coruja
E ao sino do templo,
Que não deixem silenciar a noite.
A minha noite
Não é só de grilos...
Espasmos dolorosos pulsam
E não me deixam sossegar.
Lisboa, 07-02-2010 22:36:39
(Diálogos da alma e do poeta: diário de um doente de Parkinson)