(óleo sobre tela Elisabete Sombreireiro Palma)
RECORTE NA PLANÍCIE
Rogério Martins Simões
Venho de um tempo de Inverno,
Quando a noite mais tempo toma.
Sou fruto de um vagar eterno
Quando o trabalho não retoma.
Do frio, a cortiça protege o sobreiro…
À lareira cerzia panos de linho
Chovia lá fora, era Fevereiro.
Sou filha do amor; lenha de azinho.
Foram longos os meses de espera
- Seara! Aprendi a bailar contigo
E foi a mais linda Primavera
E minha mãe cantava comigo:
“Semeei este amor de Inverno,
Papoila! Ventre da Primavera
Bago de trigo; Verão eterno,
Outono! Vida! Minha quimera.”
E o Verão foi ainda mais quente!
Mas o Outono é a minha estação…
A minha mãe carregou a semente
Verde foi o fruto do seu coração.
Ceifa-se no Verão
O que Outono é servido
Sinto dar a mão…
Que lindo vestido!
Se voltar a Beja
Que me viu nascer
e beija
Estarei ao postigo!
Sua bênção, minha mãe.
Sei que estás comigo!
19-10-2006
(Poema dedicado a minha doce e linda companheira, Elisabete Sombreireiro Palma, que nasceu em Beja no dia 19/10/1948)
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:16
(Óleo sobre tela Elisabete Sombreireiro Palma)
FORA DE TI SOU UM NOVELO
Rogério Martins Simões
Erguem-se as montanhas.
Perfilam as imagens.
Vêm através de mim,
ensina-me o caminho das margens…
Meu amor volta depressa
Tenho as minhas mãos tão pesadas
Que nem as mando poisar
Meu amor regressa
Tenho as mãos tão cansadas
E não as posso libertar.
Fora de mim sou um novelo,
que se desprende,
entre os dedos alinhados.
Fora de ti sou um elo,
que se prende,
entre os dedos desalinhados
Tenho as mãos tão pesadas
não as consigo desapertar.
Tenho as mãos tão cansadas
Que não as consigo soltar….
Salta para o meu cavalo de chuva
que se ergue à porfia.
Vem de um pulo só.
Leva-me contigo depressa
Meu amor regressa
Tenho as minhas mãos tão pesadas
Que nem as mando poisar
Meu amor volta depressa
Tenho as mãos tão cansadas
Que nem as posso libertar.
03-05-2006 15:30
(À minha companheira BETE que pinta
e com a tinta do seu amor suaviza a minha Parkinson)
BETE
Amor da minha vida, minha companheira, esposa e pintora.
Não existem palavras suficientes e bonitas, (pois linda és tu!), para te expressar o que sinto neste instante, pela tua dignidade, pelo amor demonstrado ao longo destes anos de enorme sofrimento que ainda agora começa…
Este é o teu mês - balança que equilibra o que resta de mim.
Até ao dia do teu aniversário, 19 de Outubro, voltarei a colocar aqui alguns poemas que te escrevi. Começo por este poema, “fora de ti sou um novelo”, que te dediquei quando estiveste internada e me sentia perdidamente à deriva…
Sempre
Rogério
Bete
Rogério Simões
Bete
Janela aberta
Sol penetrante, o teu,
Na hora certa:
Tão radiante e meu!
19/10/1999
Poemas de amor e dor
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DESEJO
Rogério Martins Simões
Fui ver o pôr-do-sol
As ondas do mar
Fui e encontrei
Em cores de arco-íris
Com que sonhei
O teu amor.
Fui e encontrei
A tua vida.
Era noite
Olhei teu manto
De virgem
De natureza pura
E a única loucura
Que encontrei
Foi o luar
Que te beijava com ternura.
1969
Poemas de amor e dor
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(foto de 1989)
Falando de amor!
Com amor e por amor eu vivo
Que brilho tem nosso amor,
tardio e lindo.
Obrigado Bety
por tantos anos de felicidade.
Lisboa, 14 de Abril de 2009
Do teu marido
Rogério Martins Simões
Dizias-me há pouco - deixa para lá e não te importes! continua -
Quando te disse que ia deixar o blog.
Tu mais que ninguém dás valor à minha poesia.
Tu mais que ninguém sabes como gosto dos teus quadros.
- Deixa para lá!
FALA-ME DE AMOR
(Rogério Martins Simões)
Fala-me de amor - disseste,
quando nos recantos dos jardins
as barreiras nos impediam de pisar a relva.
Rompiam as memórias
e um ligeiro vento
arrastava as folhas secas do velho plátano.
Era tão tarde…
e ainda agora despontavam as histórias...
Olhei sem desvario.
Antes, quando me debruçava no teu peito,
eras rio,
eras só rebuçado!
E trazíamos nos pés alpercatas,
com asas,
que reluziam por cima dos muros
e o chão era mais leve que o algodão…
Sabes?
A cidade fede devaneios
e as árvores crescem nos telhados das casas.
Não te vou falar de amor, não!
Reservo para mim as sensações dos velhos tempos.
Agora, restam umas quantas folhas que vêm ter comigo:
Somos dois silêncios!
Dois estranhos castanheiros perdidos na cidade…
01-02-2006.
(este poema foi puxado para aqui nesta despedida, sentida!
- Deixem para lá –
estarei morrendo se saudades por perto.)
Poemas de amor e dor
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Terna e doce recordação
Rogério Simões
I
CAEM LÁGRIMAS
Rolam-me na face
Caem no chão
Secam com o vento
As lágrimas tristes
Do meu coração!
Continuo escrevendo,
Versando tua beleza,
Apenas interrompido
Por longos suspiros
Da grande tristeza
De meu coração!
E, se depois penso
Que jamais serás minha:
Rolam lágrimas
Pelo rosto molhado
Caem no chão!
Secam com o vento!
As lágrimas tristes
Do meu coração.
Abril de 1968
Recordo-me de ti
II
Recordo-me de ti
nas horas que não eram tempo
quando os nossos olhos
ainda mal se abriam.
Eras menina
E eu corria
ao encontro na Parede
e a parede era mesmo ali
a dois passos do coração.
Eras menina
E as horas não eram tempo
Nem o tempo me separou de ti!
Terna e doce recordação
III
Eu sei que nos momentos mais duros da vida,
nos pedaços em que ainda retinha o alento
eu me recordava de ti.
Não sei a razão
Mas a menina do meu coração
permanecia na minha vida.
Adivinhava os teus passos!
Sabia de cor os teus gostos.
Afinal estavas aqui...mas fugias sempre!
Faltava-me a coragem...
E não queria perder-te!
E nossos pensamentos distantes
Eram dois amantes.
Passavam os anos não passava o amor
E até o desencontro não perdia o calor.
Que estranha forma de viver
Têm nossas duas vidas:
Tão cheias de amor e desencontradas.
Deixei endurecer o coração!
Perdi a minha juventude!
Atravessei noites!
Levantei Manhãs!
Mas não perdi a virtude...
Sabes! É tarde!
IV
"Terna e doce recordação
Nunca deixaste de me pertencer
É meu, o teu coração
Por favor ajuda-me a viver "
V
"Feliz! Só por te ver
Viver? Eu não vivi!
E nesta ânsia de ter
Acabei por te perder
Perto, tão perto de ti"
1986
(Diálogos das almas e do poeta perdidos no tempo)
Rogério Simões
Poemas de amor e dor
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publicado às 19:40
Banho
(Romasi)
Esta é a noite
Do casamento
Entre a violência e a inocência
Entre a granada e o camarada
Porque o sangue que corre
É uno
Com o ferro
Dos estilhaços da metralha.
7/10/1974
(memórias do poeta - Vietname)
Poemas de amor e dor
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publicado às 18:41
GEADA GELO CHUVA NEVE
Rogério Martins Simões
A enxada cava fundo
Na mão do homem do campo!
Fundo entra!
Chega fundo
Geada, Gelo, Chuva e Neve.
Na lareira, o pinho crepita,
A velha treme
E a criança grita
Geada, Gelo, Chuva e Neve.
O Inverno é ruim
E a bucha é tão rara.
Viva a salgadeira
Do toucinho cru!
Meu filho
Não te metas ao caminho
Geada, Gelo, Chuva e Neve.
Mãe minha, vou emigrar.
Que Deus a ajude
Que eu não posso!
E se Deus não quiser,
Geada, Gelo, Chuva e Neve.
Não há Inverno somente
Valha-nos os bafos da cabra!
Cabra minha já foste à lenha?
Geada, Gelo, Chuva e Neve.
Ardem as torgas na lareira
Senhor Ministro,
Que bela a casa a sua!?
Não há frio que lhe chegue,
Nem Geada, Gelo, Chuva e Neve.
Em casa de pobre,
Ramos de horta,
Ninhos de águia no alpendre.
Lavrador não fique curvado...
À geada, gelo, chuva e neve.
1974
(Poema dedicado ao povo da Póvoa, da Pampilhosa da Serra e a todos os Beirões)
Poemas de amor e dor
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publicado às 00:18