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BAILE
Rogério Martins Simões
Foi numa tarde que tardava,
Quando nem esperança havia,
O meu olhar ao teu se colava,
E logo naquele primeiro dia.
Veio a noite que me retalhava,
A vida que de mim tanto fugia.
E enquanto contigo dançava
A noite ciumenta desaparecia.
Trazias farripas nos teus cabelos,
Com que me prendias nos desvelos:
Olhos de carmim mulher amada.
E se o sol já vai alto e tardámos
É porque bem cedo nos amámos
Nos versos da madrugada.
Meco, Campimeco, 11-02-2013 20:11:06
De acordo com a Lei os direitos de autor estão protegidos, independentemente do seu registo. (A registar no Ministério da Cultura - Inspeção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. – Processo n.º 2079/09)
Rogério Martins Simões
Foram sete os pescadores que avistaram
Uma moira encantada e por ela morreram.
Sete os pescadores que se apaixonaram;
Sete as colinas que em Lisboa nasceram.
Daí se diga agora daqueles que a amaram
Que ao subir o castelo d´ amor renasceram
A paz interior para sempre encontraram,
Da moira encantada nunca mais souberam.
Mas, em Lisboa, toda a gente a conhece.
Logo pela manhã, quando o dia amanhece,
Subo às sete colinas onde sempre a revejo:
A moira encantada é o nosso lindo Tejo
Que no mar da prata, carregado de luar,
A Cidade de Lisboa a todos vem beijar.
ROMASI
Meco, 15-06-2012 21:08:42
COBRI DE ROSAS
(Rogério Martins Simões)
Cobri de rosas
A tua rosa
O teu botão.
Abri a rosa
Cortei a pétala
Pétala a pétala
Enchi o chão.
Mas se ao menos
O teu rosto sorrisse
E a tua boca
Dissesse palavras
De ternura:
Eu te daria
De novo rosas
Formosas
E em botão.
1987
(Caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 41)
(Poetas Almadenses)
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO…
Rogério Martins Simões
Inocento as minhas mãos.
Invento gestos.
Golpeio convenções.
Antecipo decisões
Quero chegar ao cume…
Acender o lume
E descer a vereda num sopro.
Sopra sobre mim, dá-me o trilho…
Golpe de asa no sequeiro.
Inocento a vida.
Piso um milho que suga um canavial.
Debruço-me nas tábuas silenciosas,
O arrabalde enxota um pombo num corte de asas.
Vou a caminho,
Se chegar tarde tarda o destino.
Chegará a tua vez…
Chega a todos,
Quero chegar ao cimo da rampa.
Não! Não preciso de campa,
E de bichinhos da seda,
Acendam o lume!
Golpe de asa no sequeiro
Inocento a minha fala. De que falo?
Falo de sofrimento?
Fala comigo!
Faz um gesto.
Falo!
Golpe de asa no sequeiro
Inocento a sorte. Que sorte?
Estou descalço…
Descaço os pés e coloco as botas das léguas cardadas…
Pesadas tréguas.
Falsas pistas,
Às riscas, no veludo,
É entrudo e sambo!
Não! Não sei sambar!
Danço tudo…
Danço nas letras!
Basta um toque do moscardo e irei ao fundo.
A orquestra toca,
Na toca me afundo.
Do fundo me ergo, tudo confundo,
Volto ao colete-de-forças que me não dá tréguas.
Golpe de asa no sequeiro
Inocento a pressa. Não me empurres!
Desata o atilho e solta o rouxinol …
Golpe de asa no sequeiro
Inocento a ventura.
Deram-me uma haste e um pano amarelo
Fiz mastro e uma vela.
Não sei velejar!
Tropeço num novelo,
Estatelo-me ao vento.
Arrumo as botas num vão-de-escadas
Escadas não são.
Que sorte: uma tábua de salvação.
Golpe de asa no sequeiro
Inocento o engano!
Troco uma besta
Por dois cavalos a motor.
Trago um guindaste preso a uma retroescavadora.
Que faço com a cenoura?
Que faço com a dor?
Estendo o pano e solto a alma…
Golpe de asa no sequeiro
Inocento o meu coração.
Na escada, que me leva ao azul sereno, ato um laço!
Deixa que te toque no peito.
Abraço-te!
Sinto o pulsar de uma cerejeira…
Golpe de asa no sequeiro
Inocento a esperança.
Entrego ao destino tudo o que me cansa.
Que me cansa?
A falta de esperança?
Este viver desesperado,
Na ponta de uma navalha afiada.
Estou em brasa no cativeiro
Acerto o passo nas limitações…
Não!
Nas figueiras também crescem figos secos e ovos-moles;
Os gaiatos brincam com estrelas;
O sol brilha;
A chuva molha;
A noite apadrinha os beijos;
O vento sopra e dança
O luar distende os versos
Com versos de esperança.
Secam as lágrimas no estendal
Já partiu o aguaceiro…
Golpe de asa no sequeiro…
27-10-2011 00:08:08
O RIO AO FUNDO…
Rogério Martins Simões
O rio ao fundo do vale
Leva consigo as lágrimas deste povo que sofre
Deste povo que labuta e vê partir nas águas
Outras almas em busca de outros mirantes
Que triste é viver num país sem esperança
Sem futuro!
Meco, 05-10-2011 01:33:52
Imagem de Rogério Martins Simões
O CÉU PODE ESPERAR...
Rogério Martins Simões
Com a delicadeza da Tua mão,
Nas Tuas mãos,
Com a mão na minha consciência,
Consciente dos meus actos
Parcos e isolados:
Eu me denuncio
Eu me fortaleço
E cresço
E alindo
E deslindo...
Quem me dera ser
Um pedaço de céu!
Mas o céu pode esperar...
Espera!
Devolve-me o meu sorriso
Toca-me ao menos ao de leve
No meu movimento, no rosto,
E leva para longe
Esta incerteza...
Este meu desgosto!
Vem!
Sopra sobre mim!
Pesadas estão as minhas mãos
Que não desarmam:
Baralham-se,
Confundem-se,
Desalinham-se,
Desarticulam-se…
Que se cuide a natureza
Que me deu este estar
Pois a irei combater,
Para ser…
E o céu pode esperar
Que Te importa que continue
Qual o mal isso Te trás?
Traz-me vivo na esperança.
Eis a Tua fortaleza
Que aliada à minha fraqueza
Me renova
E cresço
Me alindo
E deslindo
Quem me dera ser
Feliz e não sofrer
E o céu pode ir indo…
Indo para onde quiser
Que espere!
Pois não estou preparado!
Coloca as Tuas mãos nos meus cabelos
E deixa-me de novo sorrir.
24-01-2005
1975
(Registado no Ministério da Cultura
Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C.
Processo n.º 2079/09)