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DOUTAS PALAVRAS DO CORAÇÃO
Rogério Martins Simões
Bom é partir!
Melhor é chegar!
Pois na ventura
nunca se sabe quem parte,
ou quem chega,
se quem viaja
não tiver alguém à espera.
E se acaso tropeçar,
se não restar tempo
para a tempo chegar,
conhecerá alguém
os caminhos por onde andei?
E se derem pela tua falta,
se não fizeres falta:
chamar-te-ão pelo nome
se nem nome tens?
Volto a viajar
na têmpera das palavras.
Gosto das palavras!
De apregoar ao vento,
a minha presença,
para que tenham à mão,
a água pura e pão caseiro
quando chegar.
Levarei o pó da estrada
ou as algas do mar!
Para que saibas,
para que me reconheças,
olha-me nos pés descalços,
nos trapos rotos,
e nas doutas palavras do coração.
Levarei comigo o sal
para temperar
os novos conceitos de felicidade.
E se estiveres só,
à minha espera,
e não te der nada,
ainda assim
mereci a tua presença?
Não me esperes!
Vem ao meu encontro,
pelos caminhos
por onde,
ainda,
terei de andar!
12/11/2007
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
$ JUIZ DINHEIRO $
Romasi
Rogério Martins Simões
O jogo já começou
A luta é de morte
O dinheiro ataca!
O dinheiro defende!
Ao redor, gente, multidão,
Lançam as fichas do jogo...
Uns o atacam...
Outros o defendem...
E todos o acusam...
E entre o azar e a sorte
Alguém perdeu
Alguém lucrou...
Ficha eterna!
Não há dinheiro!
Banca rota!
E o povo sobe ao cadafalso...
Porque não tem dinheiro
Mas está inocente...
11/1968
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
ALFAMA
Fotografia de Rogério Martins Simões
A ROSEIRA NÃO SERÁ ESQUECIDA
(Romasi)
Rogério Martins Simões
A Rosa,
Rosa das escuras ruas de Alfama,
Era rosa
Filha de Roseira Brava
Que vendia sardinha de Barrica.
A Rosa
Não nasceu num berço de oiro
Nem nasceu menina rica.
Sua mãe a pariu
Quase morta
Numa manhã invernosa
A caminho da lota.
A Rosa
Filha de Roseira Brava
Que vendia sardinha de Barrica.
Não se quedou apregoando sardinha
Pelas ruas da Regueira
Ou vendendo seu corpo lesto
Pelos bares tristes da Ribeira.
A Rosa,
Rosa das escuras ruas de Alfama,
Filha de Roseira Brava
Que vendia sardinha de Barrica.
Parida quase morta
A caminho da lota,
Que não teve berço de oiro
Nem nasceu para ser rica
Lutou pela Liberdade!
Morreu vendendo a vida!
Agora dizem em Alfama…
Que a Rosa não será esquecida.
1969
(Homenagem à mulher trabalhadora de Alfama)
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
Foto de Rogério Martins Simões
A árvore que chilreia!
Rogério Martins Simões
A árvore mal-amada
Impede-te de pisar a relva?
Os caminhos para os paraísos…
serão guarnecidos
em cimento armado?
E os piratas de pernas de pau
terão pernas em betão?
Atiro uma flecha:
Cavaleiro andante
ou índio em extinção?
Não acerto uma!
- Dom Quixote
que se junte à causa!
A terra fede,
aos ímpetos dos lucros!
E os abates árvores
cortam os poleiros às aves
para não chilreiam ao sol.
A árvore que chilreia
tem os dias contados:
Constroem-se barrigas de ar,
em condomínios fechados,
para acautelar a extinta
extinção das árvores…
Os deuses mediterrâneos
que se cuidem…
Dom Quixote
que se junte à causa!
E nós também!
02-07-2007 22:33:14
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
(Casa antiga no Menino de Deus)
Corri para a janela
Rogério Martins Simões
Sabes?
Eu não vou à janela
para te ver partir…
Porque se corro para ela
É para de te ver sorrir.
Encontro no amor o coração
Desencontros no amor,
amor, não
Ferida dilacera,
já não quero rir...
E se triste me encontrar,
Na espera,
encontro no amor
a força para amar
Corri à janela p´ra te ver sorrir
1973