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POEMAS DE AMOR E DOR

Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA Poeta: Rogério Martins Simões Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004 Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda

POEMAS DE AMOR E DOR

Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA Poeta: Rogério Martins Simões Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004 Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda

Memórias de um inverno em 1954

 

Rogério Simões com 5 anos de idade

 

 

Memórias de um Inverno em 1954

Rogério Martins Simões

 

 

 

De repente, do céu,

esvoaçaram farrapos de algodão

e através da vidraça eu via

que a minha rua se revestia

 Com uma veste branca e fria:

Era o inverno

Que ainda não conhecia…

E apresentava-se esplendoroso

 Ali, ao alcance da mão,

Nevava, em Lisboa, nesse dia.

 

E os meus pais assomaram à janela,

Enquanto, entre os dois,

em bicos de pés eu crescia…

Queria tanto brincar com ela,

E a neve não me via…

 

Bem cedo parti à descoberta.

Nada se sabe

e tanto se descobre no dia-a-dia.

Todos os meninos são marinheiros,

cavaleiros andantes,

que, pouco a pouco, vão sitiando

com olhares e andares

as terras e os mares.

 

Tantas coisas me tinham ensinado...

“Os meninos são marinheiros

São cavaleiros andantes

Os meninos são guerreiros

Homens pequenos, gigantes.”

 

Meu irmão ocupava, agora, o berço

que tinha sido meu.

 Estava irreconhecível;

Era pequeno

e pintado de azul.

Olhava.

Ali estava um menino

parecido comigo,

e eu desejoso por brincar.

 

- Cresce depressa e vem brincar.

- Cresce depressa

para fazeres parte da minha história.

-Sou um menino pequenino,

maior do que tu,

cresce para seres como eu:

Cá em casa tudo é grande…

 

Pelas tábuas da velha casa

jogávamos ao berlinde.

Meu irmão,

olhava o berço que já foi seu,

que já foi meu,

e repetia as mesmas palavras:

- Cresce depressa

para brincares comigo.

 

E a nossa mãe

dava de mamar ao nosso irmão.

E ralhava!

Ralhava connosco,

 ao ver os buracos

feitos no chão.

Havia, agora, três meninos;

Três buracos no chão,

Pequeninos,

do tamanho dos berlindes.

 

O tempo passa depressa

e a escola começara.

Conheci outros meninos

que jogavam ao berlinde na rua.

E tinham abafadores,

berlindes grandes,

com que “abafavam”

os berlindes dos outros…

Aprendi a guerrear…

nunca fiz parte dos fracos…

 

E se por qualquer razão,

A razão que em mim manda,

Certo estava, às vezes não.

 “Escutei sempre o coração

Essa voz que me comanda”.

 

Nunca mais nevou na minha rua!

 

 

 (Memórias)

Lisboa, 2005-02-28

 

 

 

 

 

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Momentos Mágicos...

 

(Óleo sobre tela Elisabete Maria Sombreireiro Palma)

 

 

MOMENTOS MÁGICOS…
Rogério Martins Simões
 
No lugar onde o meu pai nasceu existe um lema muito antigo, e seguramente bem conhecidos nas outras aldeias do Concelho da Pampilhosa da Serra: VAMOS TODOS COMO OS DA PÓVOA - expressa bem, e em poucas palavras, a união de um povo, nas boas e nas más horas.
 
“Que fascínio exerceu, em mim, a tia Emília, do Pátio do Carrasco!
- Rogério unge as mãos e os pés”!
E ali ficava sentado, num banco rente ao chão, costas direitas, joelhitos bem unidos.
- O rapaz tem “cobranto” e rezava…
Depois minha mãe fazia um defumadouro e eu respirava os cheiros ancestrais dos contos mágicos do meu pai…”
 
Se há algo que recordo são os lugares e as pessoas que me dizem qualquer coisa.
Recordo perfeitamente a Pampilhosa da Serra onde ia à feira, à missa e ao pão com minha tia Laura da Conceição Simões e a minha prima Almerinda Simões.
Lembro-me de irem todos juntos - juntos sempre como os da Póvoa.
Da Póvoa recordo tudo, ou quase tudo – menos os nomes dos mais velhos, mas, ainda os vejo como eram. É interessante que depois de tantos anos tiro parecenças aos mais novos que descendem daqueles que bem conheci.
Nunca vi uma porta de casa fechada à chave e não havia notícia de por ali alguém roubar. Roubar só se fosse algum coração de menina – e eu era e sempre fui um apaixonado…
Tinha e tenho muitos amigos, na Póvoa, desse tempo menino. Corríamos todos os poços, todas as hortas, todos os caminhos. Fumávamos às escondidas, cigarros feitos de capas e barbas de milho e juntos éramos uns saudáveis traquinas! Aprendi com os “meninos-homens” da aldeia a procurar restos de bombas de foguetes, que não tinham rebentado, e a sorte esteve pelo nosso lado quando as fazíamos explodir debaixo de uma pedra ou de uma lata.
Foi ali que aprendi a jogar às cartas e foram tão bonitos esses tempos.
Apesar de só lá estar três meses seguidos, em cada ano, sempre fiz muitos amigos entre os mais idosos. Gostava de trabalhar e de ajudar os outros. Às vezes estorvava! Mas… apreciava tanto uma viagem num carro de bois do Ti Manuel Mendes. Ele era tão meu amigo que chegou a emprestar-me um jumento para ir até à aldeia mais próxima “Moninho”.
- Oh Laura! O garoto é trabalhador! Dizia o avô do César.
Era de facto trabalhador e estava sempre pronto para regar as hortas e as leiras, tal como apanhar os girinos nas águas que escorriam da “Fonte Velha” a caminho de um lugar a que chamavam do “Polome” e tinha um poço.
“Polome” era o nome que se dava a um local da povoação, um largo, um local de encontro para quem chegava e para quem partia. Junto ao este local ferravam os animais de trabalho e ali por perto enterravam as tripas das cabras que matavam para fazerem a “chanfana” para a festa de Santa Eufémia - no dia 3 de Setembro.
Recordo a chegada ao Polome e a visitas “obrigatórias” que fazíamos aos que viviam naquele lugar a Póvoa da Pampilhosa da Serra. Lá estava sempre pronto para nos receber o TI António do Vale Serrão e foi perto da sua casa que vi, pela primeira vez, o grão semeado e um desactivado o forno da telha.
A vida era difícil, ninguém diria, ninguém lamentava a má sorte, pois as casas estavam quase todas ocupadas e as hortas bem tratadas.
O fumo das lareiras saía pelas telhas ou pelos “janelos”
O galo cantava e as galinhas passeavam-se pelo mato que cobria os caminhos da aldeia que viria a servir de estrume para as sementeiras do milho e outros produtos hortícolas. Ainda hoje sinto os cheiros, os sons, as cores, o calor do verão, a fonte velha e a sua água refrescante.
Ainda vejo o cântaro na nossa casa da Eira, as panelas de ferro, a caçoila em cobre, o borralho e a braseira.
Como era gostoso ir para a “Feteira” apanhar os melhores figos e os abrunhos que não mais comi! E os morangos que cresciam nas paredes da horta! As flores! Os cachos. As ginjas e as maças.
Como vêm estou marcado. Sou um poço de saudade!
Não! Não me entendam que a minha saudade é de um tempo que não volta, (mocidade perdida). É e será difícil entender quanto eu amo a Póvoa e as suas gentes – parentes.
A minha saudade são os afectos, as recordações de tanta gente boa que nem me atrevo a citar um só nome.
A minha saudade é de ter vivido em liberdade cimentando a minha formação e alicerçando em valores a minha vida.
- Bom dia senhora Maria!
- Bom dia Rogério!
- Obrigado Rogério!
- Obrigado senhora Maria.
Aquela gente ensinou-me a dar e a receber. Ensinou-me a repartir e a não estragar o pouco que tinham. Aquela gente ensinou-me a amar e a lutar pela vida.
Vou terminar esta pequena incursão nos percursos vivos e saudáveis da minha memória…
Convidem-me para provar as filhós da aldeia do meu pai, dos meus avós.
Redescubram o bolo doce cozido num qualquer forno comunitário, com uma folha de figueira a servir de forma, e eu lá estarei para vos dar a provar a deliciosa marmelada caseira cristalizada na casa dos meus avós.  
Comerei a sopa de feijão atulhada com couves, abóbora, feijão seco e faceira de porco.
Derreter-me-ei com o lombo de porco retirado da panela de barro e com um pedaço de broa com presunto.
E se tiver frio dormirei num palheiro ou no sobrado por cima do curral das cabras!
Agora tenho de ir!
Não posso nem devo fazer esperar o povo.
O povo não parte sem mim,
nem eu parto sem o povo!
Vamos todos com os da Póvoa!
(memórias de um poeta. Dedicado a todo o povo da Póvoa – Pampilhosa da serra)

 

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ARREPIAM-SE AS LEMBRANÇAS! Obrigado ao SAPO por mais este destaque.

 

(Rogério Simões)

(Malhada, Colmeal, Góis 1953)

 

 

ARREPIAM-ME AS LEMBRANÇAS

Rogério Martins Simões

 

Arrepiam-me as lembranças

Das manhãs descalças…

De um corpo fino

De um bibe com alças:

Memórias de um tempo menino.

 

Sou alérgico às memórias ingratas!

Clarabóias deixam passar a luz,

Que derrete o gelo indeciso

Por onde passou um tempo preciso,

Das coisas belas e gratas.

 

Sou um vestígio dos umbrais

Que sustêm o peso dos meus sonhos.

Tento viajar com os olhos cerrados

Por um campo milho verde

Com bandeiras a tocarem o céu…

 

Vou jejuar!

Não comerei os figos

Bicados pelos gaios…

Procuro na horta os abrigos

Onde a distância dos Maios,

Dissipam as canas dos trigos…

 

Toquei na colmeia por querer!

Sou um sopro de saudade

Favo de mel com a minha idade

Picado de abelhas ao alvorecer…

 

Cheguei ao fim dos silêncios

Onde as memórias são silenciosas.

E os silêncios para contemplar…

 

Quem vos disso

Que tinha de atalhar os caminhos

Na horta adulta…

Se me resta um pedaço de água pura

E um púcaro vazio para a apanhar….

 

Lisboa, Tejo, 18 de Outubro de 2007

(Poema dedicado à Beira Baixa -- ao povo Beirão - à Póvoa - à Pampilhosa da Serra e à Malhada)

 



 

(Foto minha com 22 meses, 1950)

 

                               Nota de agradecimento

 

Este blog foi criado em 6 de Março de 2004. (Já nem me recordava da data)

De então para cá já teve mais de 2 milhões e 500 mil acessos e tudo se fica a dever àqueles que se revêem na minha poesia, nos poemas de Efigénia Coutinho e de Daniel Cristal a quem agradeço mais uma vez, sem esquecer a pintora da casa - Elisabete Sombreireiro Palma.

Não foi fácil! Não é fácil manter um blog sofrendo de Parkinson, observando, cada dia que passa, uma maior dependência e tentando superar as barreiras que a vida nos coloca. Para superar esse combate tenho contado com a preciosa colaboração, amor e dedicação da minha esposa e pintora Elisabete Maria Sombreireiro Palma e de muitos amigos, nomeadamente do Brasil. Não irei desistir facilmente! Acredito na cura para a Parkinson e agradeço àqueles que lutam por mim.

Ao Sapo que ao longo destes 4 anos já me distinguiu várias vezes quero mais uma vez agradecer. Nunca mudei do Sapo, esta foi a casa que me acolheu. Durante 18 meses o meu blog ocupou os primeiros lugares do Sapo e tinha, então, cerca de 3000 visitas diárias. Hoje tudo é diferente, para melhor, apesar de ter em média entre 1500 a 2000 visitas por dia.

Àqueles que não visito apresento as minhas desculpas! Não dá mesmo! A luta contra a Parkinson é tremenda e só o muito amor que tenho pela poesia me obriga a continuar.

Se escrevo poesia sofro! Mas, se não escrevo morro!

Obrigado a todos.

Com muito amor e muita paz.

Com muita tristeza e pesar pelo que está a acontecer mais uma vez ao povo do TIBETE, sou,

Rogério Martins Simões

 

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Arrepiam-me as lembranças!

 

(Foto minha com 22 meses, 1950)

 

 

 

 

ARREPIAM-ME AS LEMBRANÇAS

Rogério Martins Simões

 

Arrepiam-me as lembranças

Das manhãs descalças…

De um corpo fino

De um bibe com alças:

Memórias de um tempo menino.

 

Sou alérgico às memórias ingratas!

Clarabóias deixam passar a luz,

Que derrete o gelo indeciso

Por onde passou um tempo preciso,

Das coisas belas e gratas.

 

Sou um vestígio dos umbrais

Que sustêm o peso dos meus sonhos.

Tento viajar com os olhos cerrados

Por um campo milho verde

Com bandeiras a tocarem o céu…

 

Vou jejuar!

Não comerei os figos

Bicados pelos gaios…

Procuro na horta os abrigos

Onde a distância dos Maios,

Dissipam as canas dos trigos…

 

Toquei na colmeia por querer!

Sou um sopro de saudade

Favo de mel com a minha idade

Picado de abelhas ao alvorecer…

 

Cheguei ao fim dos silêncios

Onde as memórias são silenciosas.

E os silêncios para contemplar…

 

Quem vos disso

Que tinha de atalhar os caminhos

Na horta adulta…

Se me resta um pedaço de água pura

E um púcaro vazio para a apanhar….

 

Lisboa, Tejo, 18 de Outubro de 2007



 

 

 

 

UM NOVO ANO DE 2008 MUITO FELIZ PARA TODOS OS POVOS DO MUNDO

Deseja, Rogério Martins Simões.

 

Visitem o site que criaram para a minha poesia e vejam a arte do amigo Luís Gonçalves.

Deixem um comentário ao autor do site que teve e terá imenso trabalho. Obrigado a todos!

 

http://www.romasi.netpampilhosense.org

 

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La boule

 

 

 

Nos anos 60 do século passado, talvez em 1965, frequentei, em Sagres, o “Curso de Formação e Cultura Portuguesa” e, durante o tempo que permaneci naquele promontório, tive a felicidade de conhecer, na praia, um casal de franceses que tinham uma filha linda.

Finda a formação diária corria à praia para rever estes novos amigos. Foi assim que fiz esta amizade, misturado com um amor passageiro, impossível e adolescente. Mas foi tão lindo!

Certo dia recebi um postal de França convidando-me a visitar o seu castelo que assinalava no postal. Sim! Um castelo e não era sonho! Não fui! Nem podia ir!

Passados poucos anos revisitei Sagres e de lá escrevi esta mensagem que, então, remeti ao Sr. Max para França.

Os amores de estudante passam! As mais belas e puras recordações permanecem para sempre.

 

 



 

La Boule

 

(Romasi)

 

Bravo, Rogério, tu as gagné bien mes amitiés

« Max »

 

Et avec une boule

Nous avons fait amitié !

Si tous le monde

Joue la boule

La boule d’amour

d´amitié

nous serions toujours amis

et dans la vie ferions

un nouveau lien d´amour.

 

Nous jouerons encore la boule !?

OUI !

 

Je vais jouer avec vous,

toujours !

 

Parce que je vous aime

Et j´aime la boule.

 

Sagres, 30/01/1969

 

 

 


 

DESEJO

Rogério Martins Simões

 

Fui ver o pôr-do-sol

As ondas do mar

Fui e encontrei

Em cores de arco-íris

Com que sonhei

O teu amor.

Fui e encontrei

A tua vida.

 

Era noite

Olhei teu manto

De virgem

De natureza pura

E a única loucura

Que encontrei

Foi o luar

Que te beijava com ternura.

 

1969

 



 

 

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amrosaorvalho.gif

MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
 
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975

Todos os poemas deste blog, assinados com pseudónimo de ROMASI ou Rogério Martins Simões, estão devidamente protegidos pelos direitos de autor e registados na Inspecção-Geral das Actividades Culturais IGAC - Palácio Foz- Praça dos Restauradores em Lisboa. (Processo 2079/2009). Se apreciou algum destes poemas e deseje colocar em blog para fins não comerciais deverá colocar o poema completo, indicando a fonte. Obrigado

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