PRIMAVERA
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Rogério Martins Simões
Escondo a mão,
Qual a razão
Do alvoroço?
Todos me olham!
Todos reparam!
Que trapalhada:
(se fosse canhoto
Disfarçava…)
Treme a mão!
Treme o garfo!
Não tenho fome!?
Peço um café.
Sofro!
6/2004
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
(Foto de Rogério Simões)
(Terras ao abandono na Beira Baixa)
LOBO… QUE COMER NO QUE RESTA DA ALDEIA?
Rogério Martins Simões
Lobo não venha comer a minha ovelha…
Tenha cuidado que eu faço fogueira.
Cruzes canhoto que vem por aí a velha…
Lobo não coma a noz verde à nogueira…
Tem noite que a noite é vermelha.
Credo! Abrenúncio! Vem aí a feiticeira…
Ferradura na porta; corno na telha…
Lobo não coma o figo verde à figueira…
Lobo não volte para roubar o nosso pão.
Menino homem só tem medo do papão…
Lobo que comer no que resta da aldeia?
Loba… que vai ser de ti e da tua alcateia…
Dói-me a barriga de comer tantas amoras:
Cresceram as silvas, os matos e as horas…
04-07-2005
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
AMANHÃ É DIA DOIS
Rogério Martins Simões
Carrego em mim estes dias marginais,
Que se arrastam mas parecem iguais,
Tão diferentes o são, pois,
Até ao escrever alago as rimas.
Amanhã é dia dois!
Limpo as minhas mãos transpiradas,
Esgota-se a fonte das minhas lágrimas.
Tenho novamente as mãos suadas.
Porque amanhã é dia dois…
Já passaram por mim tantos dias…
Mas estes, ao passar, fizeram doer!
Que diagnóstico me fará mais sofrer?
Pois só de pensar pensando sofrias:
Amanhã é dia dois!
Ide oh tristezas, pois, quero que rias,
Deixai comigo o meu corpo que resta,
Os exames na mão, com esperança esta
De voltar a chorar por mais alegrias.
Passa depressa oh dia dois…
Lisboa 01/08/05
(Registado no Ministério da Cultura
Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C.
Processo n.º 2079/09)
VOLTO A SACUDIR OS OLHOS…
Rogério Martins Simões
Volto a sacudir os olhos na escrita.
Por agora tenho o caderno e a mente.
Tenho tudo para ser feliz…
– Por uma hora…
Uma criança chora!
Chora, não sei.
Chora sempre!
Deram-lhe tudo para ser feliz…
Quem mente?
As ondas varrem a cidade
Que flutua
Num extenso areal adornado de adereços…
Volto ao caderno.
Não escrevo! Ligo palavras, sílabas.
Que sílabas?
Tinha tudo para ser feliz,
Por um tempo inútil,
Onde tudo não passou
De uma forte gargalhada de dor.
Doem-me as palavras rasgadas,
Tramadas.
Dói-me esta dor que se expande num tempo
Que me tinham reservado para ser feliz.
Sigo no tempo ou pegarei no tempo?
Que sinto?
Alguém falou?
Alguém deu nas vistas?
As vistas curtas confundem as próprias vistas!
Não viste nada. Desandas!
Se ando por fora dos papéis voo nas vistas.
Se conseguisse andar daria nas vistas…
Estou sentado numa cadeia de ferros.
Tenho o caderno afundado numa teia de ferro:
A ferro e fogo.
Já fui fogo,
Água e gelo.
Gelo os meus pensamentos…
Que faço destas mãos!
Levaram as sementes do meu campo de trigo
Trinco sementes de girassol
Neste cantar de desabrigo…
Estou fechado no prédio móvel
Que é meu corpo.
Que dilema:
Perdi as forças ou estou num colete-de-forças?
Volto a olhar para dentro.
Olho o meu corpo.
Conheço a idade do meu corpo.
Não estou mal para a sua idade…
Que idade tenho?
Quero fugir de mim,
Dão-me dose dupla…
Se conseguir sobreviver
Saberei viver?
Viverá quem já não goste da vida?
Que vida? Fechada neste cadeado?
Movimento a dose dupla e volto a andar;
Subo o patamar da mente
e desço de andar na escrita…
Meco, Praia das Bicas, 12 de Julho de 2009
O LOUCO
Rogério Martins Simões
À porta do hospício está um louco!
Um louco não pode estar do lado de fora!
De fora… não estou eu:
Vejo o louco…
Que faço na casa… dos loucos…
Não me lembro!
Serei o que está do lado de dentro?
Ou o que só em mim vêem do lado de fora?
Fora de mim… serei um louco…
Obedeço às regras de fora…
Aperto a mão ao louco…
Aperto a minha mão.
Aperto!
Sou eu agora…
Aldeia do Meco, Praia das Bicas 15-06-2010 22:17:59
Foto do World Press Photo Contest
CRESCE A RAIVA NA GARGANTA!
Rogério Martins Simões
Bem cedo as manhãs começam
com camas desfeitas e frias…
cansados à noite regressam:
Perguntem às ruas vazias…
Manhãs de novo recomeçam,
com canseiras e correrias…
cansados à noite expressam:
Desagravos, fome e fobias…
Mas se há tal força no pranto,
que recresce em cada canto,
cuidai deste desassossego!
Pois se tanta voz se levanta,
Cresce a raiva na garganta:
- Chega; de tanto desemprego!
Aldeia do Meco – 12-06-2010 22:57:41