Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

POEMAS DE AMOR E DOR

Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA Poeta: Rogério Martins Simões Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004 Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda

POEMAS DE AMOR E DOR

Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA Poeta: Rogério Martins Simões Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004 Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda

A moleirinha...

 

 

Este poema, brejeiro, foi escrito recentemente. O seu autor tem 85 anos de idade e merece ser divulgado.

Em dias de Carnaval nada melhor que uma bela risada como nos sugere o poeta – José Augusto Simões - meu pai e meu mestre de poesia.

Para meus pais ainda vivos todo o amor do mundo.

Rogério Martins Simões

 

 

HISTÓRIAS ANTIGAS….

 

Amanhã é Domingo

Vou ao moinho…

Se me queres ver

Vai ter ao caminho.

 

Filho duma mãe…

Não me compreende.

- O pai do menino

Na cama se estende!

 

Chegas ao caminho

A estrada é estreita

Entramos no mato

Está a cama feita!

 

A cama está feita

Não precisa de enxerga

Só é preciso teres

Tesa bem a verga …

 

A cama está feita

Logo se agacha

Pega-se na verga

Mete bem na racha!

 

Metida na racha

Até o mato dança

Bates à vontade

A racha não cansa

 

Depois da primeira

É a tua vez

Em vez de uma só

Dás duas ou três…

 

Está o trabalho feito

Olhas bem para o lado

Eu vou para o moinho

E tu pró Valado

 

Vais para o Valado

Passas no caminho

Se tiveres mais fome...

Vai ter ao moinho.

 

José Augusto Simões

12-10-2006

(Nasceu em 1922)

 

Poemas de amor e dor conteúdo da página

Eu vi meu pai chorar

(Fotografia gentilmente cedida por Padre Pedro – Pampilhosa da Serra)

 

 

Eu vi meu pai chorar

I.

Meu pai legou-me a cadeira que há 57 anos comprou e onde sempre se sentou. Quando a retirou do escritório e me a foi dar:

eu vi o meu PAI chorar!

 Era uma vez um menino órfão que bem cedo abandonou a sua aldeia - A Póvoa - Pampilhosa da Serra.

Deixou para trás a bola de trapos, os companheiros de escola, da brincadeira e do trabalho, as pessoas a quem lia e escrevia as cartas e o trabalho duro da aldeia.

Era muito cedo a manhã. A sua mãe, doente, rezou consigo as últimas orações e entregou ao menino, um saco de pano com as poucas "roupitas coçadas" e um naco de broa para disfarçar a fome na viagem.

Trazia consigo a vontade de vencer e na bagagem a mocidade perdida.

Tinha uma memória espantosa que conservou toda a vida.

Carregava no pensamento a aventura. Era responsável e "magicava" por uma vida melhor: secreta ilusão de quem foi incapaz de renegar a educação.

Percorreu a pé grande distância que o separava da camioneta e soletrava, palavra por palavra, os últimos conselhos de sua mãe.

Finalmente o comboio a carvão que apanhou na Lousã e no dia seguinte chegou à cidade que a partir daí chamou de sua.

Lisboa, nesse tempo, fervilhava de trabalhadores migrantes na sua própria Nação.

A Europa estava em guerra mas o menino, disso pouco sabia. Recordava-se de um velho parente escutar a telefonia, às escondidas, e de ouvir falar nisso em surdina. Depois não havia jornais: tinha mato para apanhar e o estrume com que se fertilizavam as leiras para carregar.

Tão pequeno e já "alombava" os cabazes da mercearia:

 - Que importa se já estava habituado! Afinal os passeios eram melhores que o caminho das cabras.

Mas sonhava! Todos os meninos sonham!

Às vezes, ainda há pouco se tinha deitado e já estava levantado para voltar a carregar as mercearias. E, enquanto subia as escadas mais íngremes, rezava à espera de um milagre que trouxesse de volta a escola para um dia ser "doutor".

Mas sonhava! Sonhava, digo eu: pois o sonho é a compensação de quem sofreu.

O menino queria estudar! Ser alguém! Mas a tragédia tornou a voltar e numa Terça-feira soube da morte de sua mãe lá na Aldeia!

Nas vésperas, houve uma grande azáfama na Póvoa!

A sua mãe, de nome Maria, fez questão em anunciar, nessa sexta-feira, que no dia seguinte partiria numa viagem para o Céu.

E disse à irmã do menino:

- Laura limpa muito bem a casa e logo, quando acabares, vai chamar o Povo.

Mas a menina chorava enquanto limpava a casa com a vassoura de carqueja.

Por fim, lá foi de casa em casa e transmitiu a mensagem da "Ti Mariquitas" e o Povo da Aldeia foi em peso sentir o peso das palavras de despedida da minha avó.

Chamou de novo a irmã do menino, e disse:

- Laura vai chamar o "Ti Manuel Barrocas" para me tirar as medidas para fazer o meu caixão.

A irmã do menino chorava, não queria ir mas foi!

O dia chegava ao fim e com ele o Sábado (12 de Março de 1938), fim anunciado da mãe do menino.

Dizem que a sua mãe se despediu de todos - pediu perdão de todas as suas ofensas, se ofensa tivera para com alguém.

Dizem que nessa tarde de Sábado elevou as mãos aos Céus e clamando por Deus a sua alma se elevou para junto dos seus...

Faço aqui um parágrafo: Toda esta história não é uma "estória" ou uma fábula.

Recordo-me do menino, já pai, meu pai, contar que a sua mãe, a minha avó, ainda disse:

- O meu filho escreveu-me hoje uma carta! Mas eu já não a vou ouvir porque amanhã, Sábado, vou morrer e a carta só vai chegar na segunda-feira.

Minha avó faleceu a um Sábado, no dia 12 de Março de 1938, e foi sepultada ao Domingo, na Pampilhosa da Serra, como ela sempre pediu ao seu DEUS.

Meu pai só recebeu a notícia por carta, na mercearia da Rua do Grilo, na Terça-feira dia 15 de Março de 1938.

Tudo isto foi-me contado em menino por meu pai e confirmado por parentes que presenciaram os factos e a sua vida.

 

Rogério Simões

Lisboa, 25 de Agosto de 2004

 

PAI


No céu vejo uma estrela.

No etéreo, Deus nos receberá:

Meu pai é a luz mais bela

Que no firmamento brilhará.

 

Vou pedir a Deus por escrito,

Que nos junte aos dois no céu

E me chame ao primeiro grito

Com a força que Ele nos deu.

 

23-03-2004

Rogério Simões

25-08-2004 19:31:39

Poemas de amor e dor conteúdo da página

O trabalho agrícola nos anos 40 do século XX

 

 


 

O Trabalho agrícola na nossa aldeia, a Póvoa, nos anos 40 do século XX

(texto da autoria do meu pai e meu mestre de poesia)

Começo pelo primeiro trabalho que se fazia naquela época.

Todos os dias, quase todos os homens que lá estavam, e algumas mulheres, iam cortar um molho de mato. Carregavam-no às costa para os currais do gado ou para colocar nas ruas que serviam de estrumeiras.

Havia também, embora em menos quantidade, quem fizesse o transporte em carros de bois.

Este mato, depois de podre e bem curtido, fazia-se em estrume para adubo das terras de cultivo.

A primeira sementeira que se fazia era a do centeio, semeado em terras de sequeiro e nos alqueives, não levava rega nenhuma. Era semeado em finais de Dezembro ou princípios de Janeiro, e ceifado no mês de Julho. Era atado. em molhos e ficava no campo para secar bem. Depois, era todo malhado no Largo da Capela de Santa Eufémia.

Para malhar, era costume ter a participação de oito (8) homens, quatro de cada lado, cada qual tinha o seu "mangualde" com que malhava o centeio até sair todo o grão.

Depois disso, era levantada a palha com uma forquilha e atada em molhos que se guardavam nos palheiros.

O centeio, que ficava no chão, era tirado com uma vassoura própria, até ficar limpo. Além disto era ajoeirado ao vento, mas, mesmo assim, ainda era lavado e, depois, seco ao sol. Só depois estava pronto para ir. para o moinho.

A preparação do recinto de malhar, neste caso o Largo da Eira ou da Capela, também obedecia a certos rituais.

O largo era todo bem varrido (mais que uma vez) e barrado com fezes de bois (bosta), até agarrar bem. Esperava-se que secasse, estava então pronto para a malha.

Retomando as sementeiras, o cultivo seguinte era o do milho.

O milho era semeado nos meses de Março e Abril. A terra era lavrada ou cavada e, depois, gradada ou arrasada até ficar plana para lhe ser espalhado o estrume. Ao fazer os regos, o chamado acto de marejar, o estrume ficava alagado na terra junto com o grão do milho.

Quando o milho já estava crescido era sachado e, depois, arralado, quer isto dizer, compassado como devia ficar para criar espigas como deve ser. Depois disso, eram feitos regos para passar a água em leiras, para regar de forma uniforme todo o milho. Antes, porém, era todo empalhado com mato para segurar a terra.

Quando o milho já estava criado, assim como as espigas, era-lhe cortada a cana, junto às espigas. As canas com bandeira deixavam-se ficar para que o grão ficasse mais grosso.

A palha resultante deste corte, era carregada em molhos e deixava-se a secar junto às hortas. Depois de bem seca eram feitos molhinhos mais pequenos a que se chamavam fachas.

Estes pequenos molhos eram normalmente dados ao dono dos bois que lavrava a terra e carregava o estrume para as hortas. Este era chamado de "Carreiro" e a paga do seu trabalho era a palha com que ia alimentando os bois.

Mas, o ciclo do milho não termina aqui. Quando a espiga estava quase pronta para ser apanhada, eram tiradas todas as folhas da cana do milho e atadas em pequenos molhos, que depois de bem secos, eram guardados nos palheiros para serem dados, de pasto, ao gado.

Depois deste trabalho todo é que tiravam as espigas das canas, e estas eram transportadas para casa, onde se faziam as desfolhadas.

Quando as maçarocas estavam em casa, as pessoas da aldeia ajudavam-se umas às outras, num serviço verdadeiramente comunitário. O milho era desfolhado por várias pessoas.

Qualquer criança que tivesse nove ou dez anos, já ia ajudar à desfolhada e, de certeza, não ficava  atrás dos adultos nesse trabalho específico.

Nas desfolhadas havia uma coisa engraçada, o rapaz ou rapariga, a quem calhasse uma espiga encarnada, era obrigada pelo juiz a cumprir uma pena. Normalmente era dar um beijo e um abraço a todas as pessoas presentes na roda.

Tanto as desfolhadas, como as debulhas do milho, eram uma paródia. Aí se encontrava muita gente, cantava-se, bebia-se e contavam-se histórias. Por vezes (muitas, mesmo) no final das debulhas, faziam-se grandes bailaricos.

O milho, depois de debulhado, era transportado para o estendedouro, onde era espalhado em cima de grandes panos ou mantas de fitas, para ficar a secar ao sol e só era guardado quando estava bem seco.

Também para secar o milho se faziam coisas por tradição. Levava-se para o local onde o milho secava ao ar, uma arca e durante quatro ou cinco dias, era estendido de manhã (em cima das mantas ou panos) e apanhado à tarde, quando o sol passava.

Só assim, depois de passar todas estas etapas, é que o milho estava pronto para ser posto nos foles que o haviam de levar até aos moinhos, donde regressavam em farinha para se fazer a broa e os bolos.

Desta forma breve e aligeirada, espero ter mostrado como era o trabalho que estas duas espécies de cereais davam até serem transformados em alimento.

Já a batata, outro alimento indispensável na dieta serrana, e outros produtos hortícolas, assim como o vinho e azeite não davam metade do trabalho e eram muito mais compensatórios.

Não é preciso dizer mais nada para saberem o trabalho e esforço que a agricultura obrigava naquele tempo. Foi por isso, que escrevi, a vida dura dos serranos nos tempos de antigamente.

José Augusto Simões

2000

Publicado em Ecos da Póvoa


 

Poemas de amor e dor conteúdo da página

amrosaorvalho.gif

MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
 
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975

Todos os poemas deste blog, assinados com pseudónimo de ROMASI ou Rogério Martins Simões, estão devidamente protegidos pelos direitos de autor e registados na Inspecção-Geral das Actividades Culturais IGAC - Palácio Foz- Praça dos Restauradores em Lisboa. (Processo 2079/2009). Se apreciou algum destes poemas e deseje colocar em blog para fins não comerciais deverá colocar o poema completo, indicando a fonte. Obrigado

Copyright © 2017. Todos os direitos reservados. All rights reserved © DIREITOS DE AUTOR

Em destaque no SAPO Blogs
pub