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POEMAS DE AMOR E DOR

Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA Poeta: Rogério Martins Simões Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004 Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda

POEMAS DE AMOR E DOR

Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA Poeta: Rogério Martins Simões Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004 Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda

Diáspora

DIÁSPORA

Rogério Martins Simões

 

Gosto de viajar para casa.

Regressar é um desejo de quem parte

E não quer ir.

Vou!

Já fui tantas vezes na ventura

Calcetando pedras,

Dormitando em tábuas,

Onde me perco sem contemplações,

Encalhado nos confins das terras,

Para amealhar uns tostões.

 

Tivesse asas para acompanhar o pensamento…

Que as asas só se levantam tendo penas.

Penas eu tenho!

Pena não tenho da fome e dos xailes pretos…

 

Deixei em casa corpos em metamorfose,

Silêncios e silvas,

Que crescem entre os muros e dão amoras…

Comprei a última tesoura de podar:

Tenho a barriga a dar horas

E um sonho para voltar...

 

A vinha ficou brava…

A casa fechada e a hortas são agora pasto de chamas!

- Aldeia porque me chamas filho

Se eu só tive madrasta!?

- Nação porque me pedes o voto se já nem te sei ler!?

 

Gosto de regressar, mas não posso ficar…

Falo agora esta meia língua estranha,

Porque já esqueci a minha…

Volto a percorrer as estradas

Que me afastam do que resta...

Levo uns trocos para a viagem

E, quando lá me virem,

Vai ser cá uma festa….

Vou petiscar couratos

E beber uns copos

Com os rapazes do meu tempo.

Regressarei um dia para cuidar da vinha…

Por agora durmo a sesta…

Voltarei para cumprir a promessa…

Beberei, nos corpos deixados,

Um néctar guardado

Entre fragas e pinheiros…

 

Agora tenho de ir…

Regressarei à casa nova que construí

E em cada degrau

Limparei as lágrimas definitivas

Da minha saudade.

Vou partir mas quero regressar…

 

Oh Pátria amada,

Onde se acolhem os sonhos do meu regresso:

- Porque me deixaste partir?

 

Oh Pátria amada deixa-me regressar

Ainda que só te enxergue,

No que resta,

Dos penhascos e das pedras pretas.

 

Quero todo o barro, granito e lousa.

Quero a água cristalina que emergia das fragas.

Quero depositar uma coroa de rosas

Nas campas rasas dos meus pais.

E uma coroa de espinhos nos que me obrigaram a seguir…

 

Sonhei voltar!

Não voltarei para partir…

Não voltarei a sonhar.

Vou ficar!

Tenho filhos e netos neste lugar

 

Retalha a saudade

No que resta do meu corpo!

Viajarei gavião….

Por agora recebo notícias do meu país

- Dizem que as motas todo-o-terreno

Debutaram nas silvas da minha aldeia…

 

E se a língua portuguesa

é a minha raiz profunda,

Afundo as minhas mágoas

por não poder regressar

Porque regresso escreve-se agora noutra língua.

E eu já nem sei o caminho do retorno…

 

8/03/2007

Simões, Rogério, in “GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO”,

(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2014)

ISBN 978 989 51 1233 3

 

 

Poemas de amor e dor conteúdo da página

AFASTAMENTO...

(Foto de Rogério Martins Simões - Madeira 2012)

O poema que hoje levo ao vosso conhecimento foi escrito em 1974. Nem sequer pensava em o voltar a colocar aqui. Porém, como abomino os crimes praticados contra as crianças e os mais idosos – INDEFESOS – face às imagens e constatação de factos detetados numa reportagem da TVI aqui vai

 

 

AFASTAMENTO

Rogério Martins Simões

 

Separaram nossos corpos, mulher,

Na idade em que preciso de ti!

 

 

 

Cresceram os nossos filhos

Cresceram, levou-os o vento,

Agora estamos sós:

Os velhos do nosso tempo.

 

Apartaram nossas vidas

Em lares da terceira idade

Vivemos a longa distância

Indiferentes, por caridade…

 

Pareço namorar-te

Agora que bem te conheço

Tenho-te no pensamento,

Longe de ti, não te esqueço

 

 

Separaram nossos corpos, mulher,

Espero todos os dias por ti!

 

 

Se ao menos viesse o dia

Da nossa partida final,

Haveria mais alegria

No nosso amor imortal.

 

Juntos na mesma terra...

Tu e eu a recordar…

Os tempos em que lá na serra

Começámos a namorar.

 

Juntaram nossos corpos, mulher,

Às alfaces verdejantes…

 

 

10/1974



Desculpem-me, por aqui voltar a colocar um poema que escrevi quando tinha 25 anos. Confrange-me esta indiferença para com os mais idosos onde já me começo a “chegar”.

Decidi depois de escutar o que escutei sobre os doentes com doenças neurodegenerativas – neste caso Alzheimer. Também a minha Parkinson é uma doença neurodegenerativa.

Tal como ouvi a uma senhora mais idosa também eu prefiro morrer… E se o digo é por estar à vontade para o dizer: sempre assim pensei e por isso ressuscitei este meu humilde mas muito sentido poema.

 

ROMASI

 



 

Poemas de amor e dor conteúdo da página

Palavras mortas

 

(Óleo sobre tela

 

CEZANNE)

 

 

 

PALAVRAS MORTAS
Rogério Martins Simões
 
Ginete enigmático.
Corcel das alturas despenhadas.
Labirinto das palavras deformadas.
Deixa este mato, que me acama,
Sem cama, a cheirar a madressilva.
 
Chegou a hora de todas as estações:
Esfarelo migalhas nos joanetes;
Desaperto o colarinho das convicções;
E deixo passar a rua pelos dedos dos pés.
 
Todas as letras são palavras mortas!
 
Que espaço me separa da loucura
Onde permaneço e não saio.
Caio! Nem uma mão me conforta.
Nem a solidão outrora remota.
Hoje todos os dias são iguais!
Passo por tigelas… por estações,
Sem obedecer ou parar aos sinais.
Mudo de carruagem sem dar por nada
E o caldo arrefece sem comensais…
 
Lisboa, 23 de Fevereiro de 2009
 

 

Poemas de amor e dor conteúdo da página

ZARPA...QUE INCOMODA

 

 

 

ZARPA… QUE INCOMODA!
(Rogério Martins Simões)
 
 
O que pensas quando estás só?
Que notícias trazem de ti as horas?
Por que suspendes os minutos
e desprezas os segundos?
Secundaram a tua imagem
numa versão de cárcere.
 
Que sabem de ti os amigos?
Que dúvidas escorrem
nos confins da tua mente?
- Mentias se falasses!
Por isso nada dizes
e o silêncio incomoda.
 
Morrias se ouvisses um grito!
Chorarias
se escutasses uma criança!
Que criança tem o teu coração?
Ainda, assim, escutas
o teu próprio silêncio.
Resta-te um velho cão…
 
 
Continuas só,
escutando nada!?
Lá fora uma multidão,
danada,
apedreja um ladrão…
À luz de uma velha cidade
florescem cimentos
e as gentes passam por edifícios
construídos nos penhascos dos lucros…
Parecem feras enjauladas
que se soltam
e percorrem, na rotina,
o caminho contrário.
 
Contrariamente à sorte
não se fala na mesma língua…
O regresso é o inverso e o verso
de uma partida desesperada…
 
A todo o tempo se remexe
em papéis,
em contas,
e se contam os tostões
para pagar as dívidas!
 
Que dívida tens para com a sorte
em teres nascido?
 
Zarpa que incomoda!
Resta-te um velho cão…
 
 
Andam aos tiros nas ruas.
Apontam as espingardas
às casas vazias.
Vivem agora nos fundos…
a fugir às bombas.
Não oiço nada cá em baixo!
Não oiço nada cá em cima!
 
O hospital tresanda
a fétida melena
de sangue cozido pelo sol.
O sol não nasceu para todos!
Estendem-se redes,
pelos telhados,
para aprisionar a luz.
Falta-me a lucidez!
 
Zarpa que incomoda!
Resta-me um velho cão…
 
 
O cão sacode a pulga.
E a pulga regressa ao homem
de onde nunca deveria ter saído.
 
Na barraca, de tabique,
há sempre correntes de ar
e cheiros pestilentos
das canseiras.
 
No bidão
improvisa-se um lavatório.
Emprenha-se um buraco…
que faz de latrina…
 
Ao lado, prego com prego,
cheira a catinga.
E uma velha mulher
canta
uma desconhecida
canção de embalar.
 
Todas as manhãs
são escurecidas
com excrementos escorridos….
Cheira a merda!
 
Zarpa que incomoda…
Resta-me um velho cão…
 
Hoje não penso
nas quatro paredes
que me cercam.
Corri meus olhos numa cotovia
Que voava apressada...
 
Bateram à porta.
Foi engano!
Lá fora, nas cartilagens da agonia,
há tanta luta!
 
Movimento as minhas mãos
E conforto o velho cão
Que não se mexe.
Sucumbia a uma lambidela...
 
Zarpa que incomoda…
Que sorte
ter um cão por amigo!
 
Lisboa, 31/08/2006

 



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À noite só

(foto do Padre Pedro)

À NOITE SÓ

ROMASI

 

À noite, só,

Incrustado no escuro

Esperando o amanhecer

À noite, só,

Chorando

Lágrimas invisíveis

Empedernidas de lamentações

À noite, só,

De rastos

Procurando, no escuro,

Ilusões

Milhões de astros...

À noite só,

Eu,

E tantos abandonados,

Sem a lua...

1975

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MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
 
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975

Todos os poemas deste blog, assinados com pseudónimo de ROMASI ou Rogério Martins Simões, estão devidamente protegidos pelos direitos de autor e registados na Inspecção-Geral das Actividades Culturais IGAC - Palácio Foz- Praça dos Restauradores em Lisboa. (Processo 2079/2009). Se apreciou algum destes poemas e deseje colocar em blog para fins não comerciais deverá colocar o poema completo, indicando a fonte. Obrigado

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